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domingo, 16 de novembro de 2008

Raymond Abellio - «Para um novo Profetismo» e o «Fim do Esoterismo»

                  'Mon Maître disait: Toute parole que tu jettes sur le papier est une lumière qui s'éteint'







«Para um novo Profetismo»
  Raymond Abellio

Arcádia, Lisboa, 1975.

«A construção da filosofia final do Ocidente constitui para Abellio, uma obra admirável, e a sua convergência com a Tradição, mesmo que o Ocidente ainda não tenha consciência disso, «será uma das características maiores da próxima assunção». Os tradicionalistas orientais há muito que saíram da história; os ocidentais, pelo contrário, têm ainda que vivê-la. Os primeiros são de certo modo os depositários da tradição; os segundos são obrigados a conquistá-la por um esforço autónomo. Os esoteristas 'antiocidentais', como Guénon e Evola, comprazem-se, assim, segundo Abellio, «em denúncias reacionárias que nada mais são que o produto da sua impotência para viver as complementaridades e desposarem dialeticamente o poderoso movimento compressivo da idade 'negra'

Contra a simples crítica externa dos textos, e em contraposição ao carácter noturno das vias 'Mística' ou 'Devocional'L, Abellio reabilita a Razão como instrumento dialético de progressão gnóstica, para tal se fundamenta no método fenomenológico husserliano. Husserl teria assim ultrapassado a própria razão e projetado para além da lógica 'natural' uma 'lógica transcendental' que em nada se distinguirá do 'supramental' de Aurobindo ou da intuição iluminativa de Guénon. 

A história do Ocidente, desde que este se tornou autónomo com Galileu e Descartes, é caracterizada pela revolução da razão que nos faz passar de Descartes a Husserl, que se liberta definitivamente do antigo dualismo cartesiano para conquistar a unidade de um 'Eu' e de um mundo transfigurados. Ora a Transfiguração do mundo no Homem constitui precisamente o problema chave e o 'fim do esoterismo...

Esta convergência de Ocidente e Oriente prepararia assim uma espécie de unidade planetária das manifestações do espírito. Que o mundo tenha, pois, entrado num período de reintegração é o que para Abellio não oferece dúvidas, apesar das confrontações internas por que esse mundo ainda terá de passar e que serão, porventura, as mais convulsivas da sua história.

R.G.F.


'As religiões desempenham hoje, nos dois polos telúricos, um papel de unificação das massas. 

'A pouca distância do epicentro espiritual, a Igreja Católica vê, pelo contrário, a sua massa dividida . 
A crucifixão da Igreja Romana fundará a sua verdadeira catolicidade e assinará o nascimento da verdadeira religião de Cristo do período de evolução pós-diluviano.










Quando, em 1907, a encíclica «Pascendi» quis condenar o modernismo católico, definiu-o como o 'local de encontro de todas as heresias'. Esta expressão foi seguramente introduzida pelos redatores da encíclica, sem que lhe pesassem o sentido, que aliás não devemos forçar, e, no entanto, se nele refletirmos, como ela adquire uma ressonância singular! O que caracteriza propriamente uma heresia? É ser um ramo adventício que cresceu no tronco de uma ortodoxia. 
Toda heresia é, porém, exclusiva, e não condena somente a doutrina reinante, mas também a doutrina vizinha; dez, vinte ramos heréticos não chegam a formar um tronco, não se pode juntar num feixe disciplinado e de peso esta floração de indisciplinas. Mas eis que a encíclica afirma precisamente o contrário, ao parecer observar que teria sido possível, nesse início do século XX, erigir em sistema o próprio conjunto das proposições heréticas que brotaram desde há dois mil anos de todos os nós profundos do Cristianismo; isto como se um resultado tão espantoso não implicasse um poder de síntese de tal maneira novo que estaria seguramente destinado ao êxito. Êxito esse que condenaria a própria condenação. 
É ir longe de mais. Na realidade, o modernismo jamais teve força para se fundar como sistema, limitando-se a suscitar um estado de espírito crítico, um 'anti'. Pouco importa, foi um símbolo! 
O Ocidente conteve 'sempre' um conjunto de tendências - que poderíamos agrupar sob a designação de espiritualidade 'libertária' - essencialmente intelectuais, ativistas e, por conseguinte, pré-luciferinas ou pré-sáttwicas (conforme os homens), que até agora a Igreja de Roma só pôde conter ou fazer sobreviver de maneira latente nos seus mosteiros, enquanto não tivessem chegado os tempos últimos. Perante elas, a sua reação foi fatalmente variável, pois não podia nem destruí-las, nem organizá-las.





1 comentário:

Desarraçado disse...

Like! Já li esse Livro 2 ou 3 vezes. Vale a pena! :)

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