Declínio do capitalismo ou
declínio da humanidade?
Jacques Camatte
Tradução:
Miguel L.
João C.
Telma Costa
Capa
António Miguel
Edições Espaço
Braga - 1976
142 pgs.
DISTRIBUIÇÃO
Distribuidora 'O Século'
LISBOA-PORTO-COIMBRA
Composto e impresso nas oficinas
der Barbosa & Xavier, Limitada
Braga, 16 de Setembro de 1976
Estes textos foram traduzidos da
revista INVARIANCE
J. Camatte, B.P. 133. 80. 170,
Brignoles, France
A revista 'Invariance' surge a seguir ao Maio de 68. 'Invariance' consiste numa rutura dentro do quase desconhecido 'Partido Comunista Internacional', devido a discordâncias com a avaliação do que ocorreu no levantamento estudantil. Num primeiro momento juntou-se ao grupo, Roger Dangeville, tradutor da obra inédita de Karl Marx, 'Grundriss'! O 'Partido Comunista Internacional' (PCI), foi fundado por Amadeo Bordiga, que enfrentou Lenine na questão dos Sindicatos, tendo sido criticado por este na obra 'O Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo'! Também divergia no que concerne ao chamado 'Centralismo Democrático', afirmando que seria mais correcto usar a expressão 'Centralismo Orgânico', dado os elementos do Partido Bolchevista e similares da 'Internacional Comunista', serem co-optados, logo escolhidos pelos dirigentes do Partido! Esteve próximo de Trotsky e escreveu a melhor crítica, feita de um ponto de vista 'marxista' a Estaline e à União Soviética, afirmando tratar-se de 'Capitalismo de Estado'!

INDICE
I
O ERRAR DA HUMANIDADE
1: Despotismo do capital
2: Crescimento das forças produtivas, do-
mesticação dos seres humanos
3: Consciência repressiva
4: Comunismo
II
DECLÍNIO DO MODO DE PRODUÇÃO CAPI-
TALISTA OU DECLÍNIO DA HUMANIDADE
III
SOBRE O VIETNAM
IV
CONTRA A DOMESTICAÇÂO

Nunca a Sociedade Capitalista conheceu um período tão crítico como o que vivemos. Assiste-se a uma decomposição das relações sociais e da consciência tradicional. A violência e a tortura, que deveriam sublevar, mobilizar, todos os homens, estão florescentes e em estado endémico à escala mundial; face à tortura praticada actualmente, a 'barbárie' nazi aparece como uma produção artesanal, arcaica.»
O homem está completamente morto, os seres humanos contemplam as figuras do capital, que se sucedem frente aos seus olhos, exactamente como, na caverna de Platão, os homens contemplavam as sombras. O capital tornou-se a representação absoluta.
No seu estado acabado, o capital é representação. Os momentos de acesso a esta residem na sua antropomorfização, que é ao mesmo tempo capitalização dos homens. Isto pressupõe a integração dos homens no processo do capital e a integração do capital no cérebro dos homens.
Autonomização do capital pela domesticação dos homens; depois de ter analisado-dissecado-parcelado o homem, ele reconstrói-o em função do seu processo. O corte sentidos/cérebro permitiu transformar este último num simples computador que é possível programar segundo as leis do capital. É precisamente por causa das suas capacidades cerebrais que os seres humanos são, não só submetidos, mas se tornam escravos consentidos do capital. Toda a actividade dos homens é explorada pelo capital, e podemos retomar a frase de Marx: 'Ao acrescentar um valor novo ao antigo, o trabalho conserva e eterniza o capital» (Grundrisse-Fondements, t.I, p. 317) , da seguinte maneira: toda a actividade dos homens eterniza o capital.
A sociedade burguesa foi destruída, e temos o despotismo do capital. Os conflitos de classe são substituídos por lutas entre bandos-organizações, outras tantas modalidades de ser do capital. Como consequência da dominação da representação, toda a organização que se quer opor ao capital é reabsorvida por ele: é fagocitada.
É o fim real da democracia: já não é possível afirmar que haja uma classe que represente a humanidade futura, 'a fortiore' nenhum partido, nenhum grupo; o que implica que também já não pode haver delegação de poder.
O capital é representação e perdura porque existe como tal na cabeça de cada ser humano(interiorização do que fora exteriorizado) , eis o que aparece cruamente na publicidade. A publicidade é o discurso do capital. Aí tudo é possível, toda a normalidade desapareceu. A publicidade é a organização da subversão do presente a fim de impor um futuro aparentemente diferente.
O que Hegel intuira: a autonomização do não-vivente, triunfa. É a morte na vida que Nietzsche percebeu, Rainer Maria Rilke cantou, Freud quase institucionalizou (o instinto de de morte) , que Dada exibiu sob uma forma burlesca, e que os« fascistas» exaltaram: «Viva la muerte» !
Todos os elementos da crise clássica existem em estado permanente.
Assiste-se a uma decomposição das relações sociais e da consciência tradicional. Cada instituição, para sobreviver, recupera o movimento que a contesta (a Igreja Católica já não tem conta do número dos seus 'aggionamenti' ); a violência e a tortura, que deveriam sublevar, mobilizar, todos os homens, estão florescentes e em estado endémico à escala mundial; face à tortura praticada actualmente, a 'barbárie' nazi aparece como uma produção artesanal, arcaica.
Estão reunidos todos os elementos para que haja uma revolução. O que inibe os homens, o que os impede de utilizar todas estas crises para transformar os distúrbios devidos à nova mutação do capital em catástrofe para este?
A domesticação que se realizou quando o capital se constituiu em comunidade material recompôs o homem, que no início do processo, tinha destruído-parcelado. Recompõ-lo à sua imagem, como ser capitalizado; o que constitui o complemento do seu processo de antropomorfose.
Um outro fenómeno intimamente ligado ao precedente vem acentuar a passividade dos homens: o escape do capital. Há perda de controle dos fenómenos económicos, e aqueles que estão colocados de modo a ter uma influência sobre eles dão-se conta de que são impotentes, que são completamente ultrapassados.
À escala mundial, isso traduz-se pela crise monetária, a sobre população, a poluição, o esgotamento dos recursos naturais. Estes dois fenómenos explicam que aqueles que professam a revolução e crêem poder intervir para acelerar o seu curso recitem, na realidade, papeis dos séculos passados (nomeadamente até 1956 ); a revolução escapa-lhes. Quando há um abalo, faz-se fora deles.
Os seres humanos estão no sentido estrito, ultrapassados pelo movimento do capital, sobre o qual há já muito tempo não têm qualquer mão.
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