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domingo, 18 de julho de 2010

«Declínio do capitalismo ou declínio da humanidade?» - Jacques Camatte





  «Declínio do capitalismo 
ou declínio da humanidade?»
Estes textos foram traduzidos da revista «Invariance»
Jacques Camatte, B.P.  133. 80 170
Brignoles, France
Tradução:
Miguel L.
João C.
Telma Costa
Capa: António Miguel
António Manuel Correia / 
Edições Espaço
Braga, 1976
142 págs.

Nota: A revista 'Invariance' surge a segur ao Maui de 68.
         'Invariance', consiste numa rutura dentro do quase
          desconhecido «Partido Comunista Internacionai»,
         devido a discordâncias com a avaliacão do que ocorreu
         no levantamento estudantil. Num primeiro momento
        juntou-se ao grupo Roger Dangeville, tradutor da obra
        inédita de Karl Marx. «Grundriss»!
       O «Partido Comunista Internacional» (PCI), foi fundado
       por Amadeo Bordiga, que enfrentou Lenine na questão dos
       Sindicatos! Esteve próximo de Trotsky e escreveua melhor
       crítica, feita de um ponto de vista 'marxista' a Estaline e 
      à União Soviética!
          

INDÍCE:

I - O errar da humanidade 
    Jacques Camatte, Maio de 1973

1. Despotismo do capital
2. Crescimento das forças produtivas, 
    domesticação dos seres humanos
3. Consciência repressiva
4. Comunismo  

II - Declínio do modo de produção capitalista
      ou declínio da humanidade?
     Jacques Camatte, Maio de 1973

III - Sobre o Vietnam
     Danièle Voldman, Maio de 1973

IV - Contra a domesticação
     Jacques Camatte, Maio de 1973



«... No seu estado acabado, o capital é representação. Os momentos de acesso a esta residem na sua antropomorfização, que é ao mesmo tempo capitalização dos homens... Isto pressupõe a integração dos homens no processo do capital e a integração do capital no cérebro dos homens. Autonomização do capital pela domesticação dos homens; depois de ter analisado-dissecado-parcelado o homem, ele reconstrói-o em função do seu processo. O corte sentidos/cérebro permitiu transformar este último num simples computador que é possível programar segundo as leis do capital. É precisamente por causa das suas capacidades cerebrais que os seres humanos são, não só submetidos, mas se tornam escravos consentidos do capital. Toda a actividade dos homens é explorada pelo capital, e podemos retomar a frase de Marx: «Ao acrescentar um valor novo ao antigo, o trabalho conserva e eterniza o capital» (Grundriss-Fondements, t.I, p. 317) , da seguinte maneira: toda a actividade dos homens eterniza o capital. A sociedade burguesa foi destruída, e temos o despotismo do capital. Os conflitos de classe são substituídos por lutas entre bandos-organizações, outras tantas modalidades de ser do capital. Como consequência da dominação da representação, toda a organização que se quer opor ao capital é reabsorvida por ele: é fagocitada. É o fim real da democracia: já não é possível afirmar que haja uma classe que ´represente` a humanidade futura, ´a fortiori` nenhum partido, nenhum grupo; o que implica que também já não pode haver delegação de poder. O capital é representação e perdura porque existe como tal na cabeça de cada ser humano (interiorização do que fora exteriorizado), eis o que aparece cruamente na publicidade. A publicidade é o discurso do capital. Aí tudo é possível, toda a normalidade desapareceu. A publicidade é a organização da subversão do presente a fim de impor um futuro aparentemente diferente. O que Hegel intuíra: a autonomização do não-vivente, triunfa. É a morte na vida que Nietzsche percebeu, Rainer Maria Rilke cantou, Freud quase institucionalizou (o instinto de de morte) , que Dada exibiu sob uma forma burlesca, e que os fascistas exaltaram: 'Viva la muerte'! Nunca a sociedade capitalista conheceu um período tão crítico como o que vivemos. Todos os elementos da crise clássica existem em estado permanente. Assiste-se a uma decomposição das relações sociais e da consciência tradicional. Cada instituição, para sobreviver, recupera o movimento que a contesta (a Igreja Católica já não tem conta do número dos seus ´aggiornamenti`; a violência e a tortura, que deveriam sublevar, mobilizar, todos os homens, estão florescentes e em estado endémico à escala mundial; face à tortura praticada actualmente, a 'barbárie' nazi aparece como uma produção artesanal, arcaica. O Homem está completamente morto. Os seres humanos contemplam as figuras do capital, que se sucedem frente aos seus olhos, exactamente como, na caverna de Platão, os homens contemplavam as sombras. O capital tornou-se a representação absoluta. Estão reunidos todos os elementos para que haja uma revolução. O que inibe os homens, o que os impede de utilizar todas estas crises para transformar os distúrbios devidos à nova mutação do capital em catástrofe para este? A domesticação que se realizou quando o capital se constituiu em comunidade material recompôs o homem, que no início do processo, tinha destruído-parcelado. Recompô-lo à sua imagem, como ser capitalizado; o que constitui o complemento do seu processo de antropomorfose. Um outro fenómeno intimamente ligado ao precedente vem acentuar a passividade dos homens: o escape do capital. Há perda de controle dos fenómenos económicos, e aqueles que estão colocados de modo a ter uma influência sobre eles dão-se conta de que são impotentes, que são completamente ultrapassados. À escala mundial, isso traduz-se pela crise monetária, a sobrepopulação, a poluição, o esgotamento dos recursos naturais. Estes dois fenómenos explicam que aqueles que professam a revolução e crêem poder intervir para acelerar o seu curso recitem, na realidade, papeis dos séculos passados (nomeadamente até 1956); a revolução escapa-lhes. Quando há um abalo, faz-se fora deles. Os seres humanos estão no sentido estrito, ultrapassados pelo movimento do capital, sobre o qual há já muito tempo não têm qualquer mão (daí em parte o sucesso do que se chama «New Age»)... »

Jacques Camatte (in «Invariance»)

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