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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

«Declínio do capitalismo ou declínio da humanidade» II- 'O capital como representação absoluta'


«Declínio do capitalismo ou declínio da humanidade?»
Jacques Camatte
Tradução:
Miguel L.
João C.
Telma Costa
Edições Espaço
Braga - 1976







Nunca a Sociedade Capitalista conheceu um período tão crítico como o que vivemos. Assiste-se a uma decomposição das relações sociais e da consciência tradicional. A violência e a tortura, que deveriam sublevar, mobilizar, todos os homens, estão florescentes e em estado endémico à escala mundial; face à tortura praticada actualmente, a 'barbárie' nazi aparece como uma produção artesanal, arcaica.»
O homem está completamente morto, os seres humanos contemplam as figuras do capital, que se sucedem frente aos seus olhos, exactamente como, na caverna de Platão, os homens contemplavam as sombras. O capital tornou-se a representação absoluta.

No seu estado acabado, o capital é representação. Os momentos de acesso a esta residem na sua antropomorfização, que é ao mesmo tempo capitalização dos homens. Isto pressupõe a integração dos homens no processo do capital e a integração do capital no cérebro dos homens.
Autonomização do capital pela domesticação dos homens; depois de ter analisado-dissecado-parcelado o homem, ele reconstrói-o em função do seu processo. O corte sentidos/cérebro permitiu transformar este último num simples computador que é possível programar segundo as leis do capital. É precisamente por causa das suas capacidades cerebrais que os seres humanos são, não só submetidos, mas se tornam escravos consentidos do capital. Toda a actividade dos homens é explorada pelo capital, e podemos retomar a frase de Marx: 'Ao acrescentar um valor novo ao antigo, o trabalho conserva e eterniza o capital» (Grundrisse-Fondements, t.I, p. 317) , da seguinte maneira: toda a actividade dos homens eterniza o capital. 
A sociedade burguesa foi destruída, e temos o despotismo do capital. Os conflitos de classe são substituídos por lutas entre bandos-organizações, outras tantas modalidades de ser do capital. Como consequência da dominação da representação, toda a organização que se quer opor ao capital é reabsorvida por ele: é fagocitada.
É o fim real da democracia: já não é possível afirmar que haja uma classe que represente a humanidade futura, 'a fortiore' nenhum partido, nenhum grupo; o que implica que também já não pode haver delegação de poder.
O capital é representação e perdura porque existe como tal na cabeça de cada ser humano(interiorização do que fora exteriorizado) , eis o que aparece cruamente na publicidade. A publicidade é o discurso do capital. Aí tudo é possível, toda a normalidade desapareceu. A publicidade é a organização da subversão do presente a fim de impor um futuro aparentemente diferente.
O que Hegel intuira: a autonomização do não-vivente, triunfa. É a morte na vida que Nietzsche percebeu, Rainer Maria Rilke cantou, Freud quase institucionalizou (o instinto de de morte) , que Dada exibiu sob uma forma burlesca, e que os« fascistas» exaltaram: «Viva la muerte» !


Nunca a sociedade capitalista conheceu um período tão crítico como o que vivemos. Todos os elementos da crise clássica existem em estado permanente.
Assiste-se a uma decomposição das relações sociais e da consciência tradicional. Cada instituição, para sobreviver, recupera o movimento que a contesta (a Igreja Católica já não tem conta do número dos seus 'aggionamenti' ); a violência e a tortura, que deveriam sublevar, mobilizar, todos os homens, estão florescentes e em estado endémico à escala mundial; face à tortura praticada actualmente, a 'barbárie' nazi aparece como uma produção artesanal, arcaica.
Estão reunidos todos os elementos para que haja uma revolução. O que inibe os homens, o que os impede de utilizar todas estas crises para transformar os distúrbios devidos à nova mutação do capital em catástrofe para este?
A domesticação que se realizou quando o capital se constituiu em comunidade material recompôs o homem, que no início do processo, tinha destruído-parcelado. Recompõ-lo à sua imagem, como ser capitalizado; o que constitui o complemento do seu processo de antropomorfose.
Um outro fenómeno intimamente ligado ao precedente vem acentuar a passividade dos homens: o escape do capital. Há perda de controle dos fenómenos económicos, e aqueles que estão colocados de modo a ter uma influência sobre eles dão-se conta de que são impotentes, que são completamente ultrapassados.
À escala mundial, isso traduz-se pela crise monetária, a sobre população, a poluição, o esgotamento dos recursos naturais. Estes dois fenómenos explicam que aqueles que professam a revolução e crêem poder intervir para acelerar o seu curso recitem, na realidade, papeis dos séculos passados (nomeadamente até 1956 ); a revolução escapa-lhes. Quando há um abalo, faz-se fora deles.
Os seres humanos estão no sentido estrito, ultrapassados pelo movimento do capital, sobre o qual há já muito tempo não têm qualquer mão (daí em parte o sucesso do que se chama «New Age»)


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