Contextualizado no Portugal de finais dos anos 50 e inícios dos anos 60, “Poeticamente Exausto, Verticalmente Só” conta a história de José Bação Leal, um jovem e promissor poeta, falecido em Moçambique durante a guerra colonial, com apenas 23 anos.
Com uma sensibilidade à flor da pele e uma consciência política rara naqueles tempos, marcou fortemente as pessoas com quem conviveu. Após a sua morte, os amigos juntaram-se para editar, em forma de homenagem, os seus poemas e cartas. Em 1971 o seu pai reedita-o desta vez com um grande impacto no meio literário e intelectual. Será, nesse ano, o livro mais vendido na Feira do Livro de Lisboa, antes de ser apreendido pela PIDE.
No prefácio de “Poesias e Cartas” escreve Urbano Tavares Rodrigues “além de nos fazer conviver humana e esteticamente com quem teria porventura vindo a ser – não lhe tivessem truncado a vida a crueldade e a insânia que ele denuncia – um dos maiores escritores da língua portuguesa do nosso tempo, este livro fica para sempre, no seu valor testemunhal, como um marco histórico (resumindo a agonia e o martírio de tantos e tantos jovens absurdamente torcidos ou, como ele, quebrados ao arrepio da história, na sua natureza e nas suas opções)”.
“Poeticamente Exausto, Verticalmente Só” (frase retirada de uma das suas cartas) traça o percurso de Bação Leal através das memórias dos seus amigos próximos e da sua irmã. Estes lembram a sua inteligência, o seu talento, o seu humanismo, bem como a resistência corajosa de que foi capaz dentro da própria instituição militar.
Documentário - 53 min - 2007 - Realização: Luísa Marinho - Produção : António Ferreira - Fotografia : Cláudio Ribeiro Música : Luís Pedro Madeira - Produção: ZED Filmes - Curtas e Longas
Trailer do documentário sobre o escritor José Bação Leal.
'Quero ir para a morte, como para uma floresta ao crepúsculo' - F. Pessoa )
'Não posso adiar o amor para outro século. nãoposso adiar o coração'
A. Ramos Rosa
'Porque o povo não sabe que o homem morre antes da sua última canção»
Herberto Helder
'Era o tempo em que sentados na pedra, ouvíamos a erva. E era Verão'
A. Ramos Rosa
Poeticamente exausto, verticalmente só, lembro memória dum qualquer verão em nenhuma parte. Percorro o suor dos mortos. Acabo em cada boca que começa. E como os mortos suaram antes da guitarra de barro! Kid, companheiro antiquíssimo: pergunto: o desespero já foi jovem? quem doará seu rosto ao trigo da aurora? quem, quando a areia crescer nos olhos, resolverá a rosa marítima?
'Escreve! Nada sei da mulher que possuíste em casa da Lena. Sei somente das jovens que
a cidade digeriu. Sei todas as cidades do noturno mapa do esquecimento.'
P. S. Sou aspirante. Não me chames alferes. Sim, não me promovas. (ao Francisco) Agosto de 1963 - Mafra
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