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sexta-feira, 11 de maio de 2012

«Professores para quê?» - Georges Gusdorf





    


                 «POURQUOI 
                        DES 
            PROFESSEURS?»
            Georges Gusdorf
Professeur à l'Université de Strasbourg

    Bibliothèque Scientifique
 Collection Sciences de L'homme
Payot
Paris 1963

(existe uma reedição datada de 1977 para além de uma edição 
   em livro de bolso na «Petite Bibliothèque Payot»)


Em 1967 a Livraria Morais Editora» publicou uma tradução em
língua portuguesa: «Professores para quê?», que não possuímos 
na nossa biblioteca particular.)


À data da publicação desta obra já Georges Gusdorf gozava de imenso prestígio, devido aos
livros de grande qualidade científica que escrevia e publicava desde 1948!
Então o que motivou este eminente Professor e Pensador francês a escrever e editar esta obra? Em 1963, na idade da rádio, da televisão e dos meios audiovisuais, podia já pôr-se a interrogação sobre se os mestres e professores de toda a espécie não são bocas inúteis. A sua existência constitui de per si um arcaísmo; parece querer perpetuar-se o modo de ensino mais caro e mais em desuso!
Em plena catástrofe pedagógica se encontrava a situação de então. Os tecno-burocratas dos Ministérios,  atolados pela maré demográfica e fascinados pela utopia cientista, sonham com uma instrução de massas.
Com este livro o Autor pretende resolutamente e indo a contracorrente, e esta atitude constituirá um sinal dos tempos se a sua fidelidade tradicional lhe confere um carácter revolucionário. Livro de um filósofo, mas não livro de filosofia, no sentido técnico do termo, pedagogia da pedagogia, tentativa para separar e assim poder encontrar, sob as abstrações, o significado permanente do empreendimento educativo.
Que é um mestre? Que é um discípulo? Como alguém se torna discípulo? Como deixa de o ser? Como alguém se torna mestre? Como discernir neste domínio o verdadeiro do falso, o autêntico da sua contrafação? Tais as questões debatidas neste livro, que  é compreensivo que possa aparentar por vezes ser um requisitório e um panfleto!...


De seguida permitimo-nos  apresentar alguns excertos, em versão livre, extraídos das págs. 254, 255 e 256 da presente obra:

«É mestre todo aquele que indo para além de uma conceção da verdade transformada em fórmula universal, solução redutora do ser humano, tudo faz a fim de atingir a forma ideal da verdade demandada a partir da ação. O mestre não é detentor da verdade, e não concebe a hipótese de alguém a possuir. Causa-lhe horror o espírito do pedagogo que se comporta como um proprietário, e o seu desejo de ser o senhor da vida.

O obscurantismo pedagógico procura asilo e refúgio na tecnicidade. O mestre aborda os problemas do ensino atendendo à peculiaridade das faculdades humanas, propondo-se educar a atenção, a memória, a imaginação, ou pela especificidade das disciplinas didáticas, se dispõe então a missão de facilitar a aprendizagem do cálculo, do latim ou da ortografia. O pedagogo transforma a sua aula em oficina que labora tendo em vista que venha a render.; cumpre assim o que a sua reta consciência lhe dita, por meio de gráficos e estatísticas sabiamente doseados e plenos de promessas. O seu espaço de ação já de si exíguo, leva-o a ver-se a si próprio como feiticeiro laico e cumpridor de tradições, manipulador de inteligências sem
rosto.

O mestre autêntico é aquele que jamais se esquece, qualquer que seja a disciplina do programa ensinada, que é a verdade que está em questão. Seguramente existem programas e atividades especializadas. É mister, tanto quanto possível, respeitar os programas. Porém, as verdades particulares repartidas pelos programas não passam de aplicações e imagens de uma verdade de conjunto, que é uma verdade humana, a verdade de homem para homem.

A cultura mais não é senão a tomada de consciência, por cada indivíduo, desta verdade que fará dele um homem. 

O pedagogo dá o seu melhor a fim de assegurar ensinamentos diversos; partilhou conhecimentos. O mestre  quer ser antes de de mais àquele que ´inicia` , que introduz na cultura. A verdade consiste para cada um na tomada de consciência do sentido da sua situação concreta. A partir da sua própria situação face à verdade o mestre procura despertar os seus discípulos para a consciência da sua verdade singular.» 

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