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domingo, 9 de agosto de 2009

Francisco Rolão Preto - Seleção de textos de a «A traição burguesa»




FRANCISCO ROLÃO PRETO

Francisco Rolão Preto, natural de Soalheira (Castelo Branco) nasceu em 12 de Fevereiro de 1893. Exilado por motivos político pela primeira vez aos 14 anos de idade (1907); frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, que abandonou em 1912 para se juntar às tropas de Paiva Couceiro reunidas na Galiza; condenado a 9 anos de prisão evadiu-se para a Bélgica; foi co-fundador e secre­tário da Revista Alma Portuguesa,na Bélgica, que deu origem ao Integralismo Lusitano; licenciado em Ciências Filosóficas emLovaina ( aluno do Cardeal Mercier ); frequenta a Faculdade de Direito de Toulouse, onde se licencia em Direito; em 1916 Magalhães Lima, Grão-Mestre da Maçonaria, na qualidade de Ministro da Instrução da República, visita-o no seu modesto quarto de estudante da Universidade de Toulouse, a fim de trocar impressões sobre a inquietação da Moci­dade do tempo; amnistiado em 1917 regressou a Por­tugal; fez parte da Junta Central do Integralismo Lusitano; em 1919 aderiu à revolta de Aires de Ornelas e sublevou o exército nas Beiras; candidato pela Covilhã após a Monarquia do Norte; tomou parte em diversas conspira­ções entre 1919 e 1926; participou no 28 de Maio; redi­giu o manifesto do marechal Gomes da Costa; em 1932 dirigiu o jornal A Revolução; fundou o movimento nacional-sindicalista; em 1934, como chefe do movi­mento nacional-sindicalista, fez uma exposição ao Governo, foi imediatamente exilado para Espanha; em 1935 publi­cou em o Fradique um artigo em que se opunha com um não! Categórico à dissolução da Maçonaria, pois era de opinião que «Aos erros do espírito há, que opor as verdades do espírito»; residiu em Espanha e redigiu com José António Primo de Rivera os «27 pontos» da Falange; acompanhou todo o decorrer da Guerra de Espanha; fezparte da Comissão de candidatura do almirante Quintão Meireles (1951); fez parte da comissão de candidatura do general Humberto Delgado (1958); foi candidato por Lisboa da Comissão Eleitoral Monárquica (1969); foi candidato pela Convergéncia Monárquica (1973); fundador do Partido Popular Monárquico (1974), é actualmente presidente do Congresso deste Partido; tem publicado vasta obra doutrinária quer em jornais, quer em livros; apontaremos as suas obras principais: Redenção; A Monar­quia e a Restauração da Inteligência; Para Além do Comu­nismo; Balizas; O Nacional-Sindicalismo; Salazar e a sua Época; O Fascismo; A Revolução Espanhola; Para Além da Guerra; Justiça! (apreendido pelas autoridades salaza­ristas); A Traição Burguesa; Tudo Pelo Homem Nada Con­tra o Homem; Inquietação; Carta Aberta ao Doutor Marcelo Caetano.
ALBERTO CASTRO FERREIRA

NOTA: o texto que a seguir reproduzimos resulta de uma selecção e respectiva montagem de excertos do livro de Rolão Preto, «A Traição Burguesa», publicado no post Guerra Mundial imediato. Lamentamos não ter tido acesso a obras-chave do autor em causa, inclusive em buscas efectuadas na Biblioteca Nacional, o que provavelmente limitou o nosso trabalho (faltou-nos em especial o acesso às obras «O Fascismo» e o «Nacional-Sindicalismo»). ( 1976 )

ROLÃO PRETO FACE AO NACIONAL-SOCIALISMO
«O Fascismo e o Hitlerismo são totalitários, divinizadores do Estado, cesaritas: nós outros (Nacional-Sindicalistas) pretendemos encontrar na tradição cristianíssima do Povo Português a fórmula que permita harmonizar a soberania indiscutível do Interesse Nacional com a nossa dignidade moral de homens livres».
Entrevista de Rolão Preto à «United Press» em 1933, publicada no jornal espanhol «Esfera»

Retirado pro 'scan' , por falta de meios adequados da livro »A minha Luta» (A.H.)





O SURGIR DO »NACIONALISMO REVOLUCIONÁRIO»
Assim, quando o «nacionalismo» surgiu dos escombros da primeira grande guerra com os seus métodos fortes e o seu pregão revolucionário, a primeira reação da Burguesia foi de hostilidade e afastamento de gente tão intempestiva e desorientada.
Eis porém que o nacionalismo alcança «étapes» decisivas. Por toda a parte a sua Revolução incute esperanças, cria clima de possibilidades. Então, a Burguesia corre a fazer com o nacionalismo a sua aliança. Joga a sua carta, disfarça-se com as suas cores, invade-lhe os quadros domina-lhe, enfim, os destinos.
Depressa essa manobra de traição burguesa mostraria, por muitas partes os seus frutos naturais. O entusiasmo criador, caiu por importuno; os combatentes da primeira hora, aqueles que poriam na execução de qualquer serviço o ardor de uma missão e o anseio par; de ver triunfar a doutrina pela qual se bateram, foram afastados por ardoroso (Um ano depois da vitória -nacionalista. em Espanha, perguntando eu em cidades do pais vizinho pelos nomes mais conhecidos da Falange dos tem guerra civil - raros, verifiquei ainda estarem ao serviço da nação. Por parte os - novos nacionalistas. tinham ocupado as posições dos que se tinham batido.) , e, substituídos pelo «não te rales» de quantos acudiam na hora do rancho, gente «sensata» para quem o sucesso de uma organização o peso do seu comando e os malefícios do seu clima, a aliança da traição burguesa.
Talvez até que o chefe do Fascio, ao marchar sobre Roma já o não fizesse livre de compromissos ... Chegaria ele ao Poder, ao menos naquela altura, sem as cumplicidades burguesas que lhe aplanaram o caminho?
O certo é que, travada a batalha, o capitalismo burguês, que de começo vira nas atitudes irrequietas e inconformistas de Mussolini motivo forte de desconfiança e hostilidade - passa de súbito a apoiá-lo. É um «cheque» da «Fiat» que financeia as coortes dos «arditi» na sua luta de morte para assegurar uma ordem que a decom­posição burguesa não conseguia manter.
A aliança burguesa começa então e jamais deixa de influir nos destinos, torneando, pactuando, inflamando apetites, desarmando pro­testos, - conduzindo tudo para a megalomania, a ânsia das riquezas, o instinto do poderio sem limites nem fiscalização, fosse de quem fosse.
Mussolini aceita ser o «Duce». O chefe de uma revolta Popular aceita ser Sila, protector de uma «ordem» de casta, o triunfo implacá­vel, o orgulho frio do imperante. Mateoti caiu ... A Revolução tornara-se baluarte burguês, garantia do «statu quo» dos satisfeitos.
O Fascismo, aliado da Burguesia, perdera o seu verdadeiro sen­tido. Para se manter tinha um caminho que o espírito burguês inspira a todos os orgulhos ... A guerra.
Aquele que alteara o peito frente às multidões, para as inflamar com a sua fé conduzir com o seu ardor de revolucionário por todos os caminhos da glória; aquele que ensinara à Europa descrente, uma «mística nacionalista»; aquele que fez brilhar por momentos aos olhos do mundo a miragem de uma justiça triunfante - esse homem superior onde tantas vezes explodem clarões do génio romano e estoira o trovão dos césares - eis um grande exemplo do destino que as alian­ças burguesas proporcionam a quantos nelas confiam para nelas se perderem.
NAZISMO
E assim também, com Hitler. O chefe do nacional-socialismo alemão que era na verdade senão uma forte vontade, um espírito revo­lucionário arrebatado; uma fé inquebrantável tudo posto, ao serviço da comunidade alemã e da justiça social que ela reclamava?
Ei-Io lançado na grande .fogueira da propaganda, sacudindo até ao fundo das entranhas, a consciência dos adormecidos; insuflando uma alma nova aos cépticos e um fervor novo aos cobardes ou abatidos pela derrota nacional; sobretudo, ei-Io semeando a grande seara revo­lucionária ao anseio da nova era de justiça social.
Eis a Revolução em marcha.
De duas formas totais de apreciar o problema da justiça no mundo - Hitler é uma.
A Nação acorda, aclama-o, elege-o na praça pública, elegendo nele, no seu verbo iluminado, a sua eterna esperança sempre pronta a florir em novos anseios.
Frente a Hidenburgo e aos partidos burgueses reunidos todos em sua volta no temor do tremendo assalto revolucionário - o nacional­-socialismo reúne 19 milhões de votos no ostracismo da oposição. Das ruas sobe até ao palácio do velho marechal o cântico religioso de uma fé nova do povo alemão. A Burguesia inquieta reage ainda ...
Um dia porém a Burguesia cede. Os caminhos aplanam-se. Alguém segreda ao ouvido do velho chefe, o conselho que tudo decide. Pela mão de Von Papen, Hitler sobe as escadas da Chancelaria. Pela mesma mão se atava uma nova aliança: a aliança da Burguesia com o Nazismo. No Olimpo, Maquiavel sorria ... A Burguesia mudara de tertoce.
ELIMINAÇÃO DA ALA SOCIAL DO PARTIDO NAZI
Duas tendências; duas linhas de força fundamentais percorriam o campo nacional-socialista: a febre da «revanche» e o anseio de jus­tiça. Para neutralizar uma, a Burguesia apoiou a outra.
Não tardou, assim, que a crise surgisse no seio do Partido. Nessa conjectura dramática Hitler vê-se obrigado a escolher: esmagar a ala esquerda, a ala social, ou ser ele esmagado pelas forças da conservação e do
nacionalismo estreme. Poderia ainda ter abandonado o Poder livremente e tentar refazer na oposição a unidade do partido, perdendo o que se perdesse mas salvando a sua projecção revolucio­nária no futuro. Mas o Poder é filtro mágico que altera a visão e engana o julgamento. Do alto dessa colina que tanto custa a galgar, os homens que ficam cá por baixo dificilmente são visíveis na sua pobre miséria de formigas... Cria-se um clima que favorece e exalta a con­fiança em si próprio, ao mesmo tempo que se vão com pessimismo e dscrença os outros. De um modo geral, para o Poder, a natureza humana tem, uma amarga essência. Ao «poder» compete pois «uma missão», a missão superior de «salvar» os homens por todas as manei­ras, mesmo as legais, como dizia Maurras.
DEFESA DA LIBERDADE DE OPOSiÇÃO
Esta consciência de uma missão segreda ao Poder um natural desprezo pelas oposições. Podem eles ter também uma missão? S.erão mesmo susceptíveis de ter ideias justas?
Com que ironia profunda os homens dos governos atiram aos homens das oposições o epíteto de «salvadores». Concebe-se que possa
haver outro critério de «salvação do que aquela que os Deuses inspi­ram aos seus eleitos»?
O exercício do poder com as glórias, as honrarias e os proveitos adrede, cria uma corrupção própria a que um rei ou aristocrata pode por vezes resistir mas que a Burguesia não domina. Assim, o que todas as vantagens e todas as cumplicidades segredam aos governan­tes é sobretudo: durar. Durar, manter-se, continuar. Eles saberão em tempo oportuno equacionar e resolver todos os problemas, corrigir todos os defeitos, rectificar os enganos. De resto se eles o não fizerem, ~/es que têm todos os elementos de informação, toda a ciência certa, toda a competência e toda a força, quem poderá então fazê-lo, ó nós­cios, ó imprudentes, ó míseros?
Os governantes o que precisam é pois de durar e os governados paciência para esperar.
Eis porém Hitler face a face com a traição burguesa e acabando por lhe aceitar o maquiavélico conselho.
Desde então a sorte estava lançada.
CONDENAÇÃO DO EXPANSIONISMO NAZI
Os ideais, as amizades, as camaradagens - tudo isso tinha que ser sacrificado «à missão» de Hitler, missão que a sua «estrela» prote­geria com resplandecente segurança ... Roehm e alguns dos fervorosos nacionais-socialistas como ele, caem no seu sangue, toda a ala esquerda do partido oferecida em holocausto à aliança burguesa ... O Dr. Schacht presidindo às finanças do 111 Reich ... A corrida dos armamentos, a obsessão do Tratado de VersaiJIes e Dantzig, os lugares comuns de um chauvinismo exaltante ... A raça superior. Os melhores bobards cien­tíficos de Gobineau e Chamberlain - o Dolicocéfalo loiro ... o homem perfeito, o povo escolhído-Herr Volk ...
Sucumbem então os Sudetas, liquida-se a Austria, esmaga-se a Checoslováquia, e, por fim, era fatal, a ... guerra. A grande ilusão de Carlos Magno, Carlos V, Napoleão, Guilherme /I e do 111 Reich: - a unidade da Europa, a miragem de uma ressurreição do Império Romano centro do mundo ...
Decerto, um vivo clima heróico, uma porta mística nacionalista imperial agitam um momento o povo alemão erguendo-o às culminân­cias da História, na bravura, na unidade e na grandeza moral, com que soube sofrer batalhas e cair de pé no lance supremo; de resto ainda, a orgânica social e política, as conquistas no Trabalho, na Técnica e na Assistência, os limites postos à ambição latifundiária dos Junkers - decerto, isto é uma obra que merecerá ser consíderada pela História na hora em que serenamente ela puder fazer o seu julgamento.
Mas nem os clarões estupendos da mística nacionalista, nem as poderosas projecções sociaís do esforço nazista podem fazer esquecer o que o nazismo representa de decepção para a esperança revolucio­nária que fizera nascer no mundo o nacional-socialismo.
Conquistar um mundo, organizando e armando espiritual e mate­rialmente todo um vasto povo - foi um alto sonho e significou um duro esforço. A Revolução tem porém outros direitos e outras armas. E, eis, porque, se para a Alemanha super-povoada havia o imperativo de graves problemas face a um mundo que ela encontrou todo ocupado, nem por isso para a consciência revolucionária deixam de subsistir as razões de uma condenação inexorável.
Para a conquista da terra, não haverá, com efeito, outra maneira além da violência das armas, Ó revolucionários? ..
A palavra foi porém dita: decepção. O seu sabor amargo penetra demasiado a consciência de quantos sinceramente sentiram o alvoroço das primeiras horas em que Mussolini e Hitler ergueram na praça pública o seu clamor revolucionário, para que bem mereça ser medi­tada.
Vão longe, na corrida louca do nosso tempo, as ansiedades e as febris interrogações a que o fascismo e o nacional-socialismo deram então um corpo e um sentido forte.
Saíra-se de uma tremenda guerra que fazia ruir um velho mundo, milhões de homens tinham sofrido e batalhado duro e regressavam agora a seus lares trazendo no peito a angústia da inutilidade das suas dores e do seu esforço. Luta de hegemonias, batalha de imperialismos, ruínas vãs ...
Para que se vivera na lama das trincheiras, se marchara ofere­cendo o pobre corpo à crueza das balas assassinas? para que se perderam lugares e vidas, arrazariam cidades e talariam campos - se toda a inquietação de justiça, todo o anseio de transformação do mundo para além da catástrofe visionada em noites de vigília dolorosa, se mostrava agora ter sido fumo inútil de inútil sonho?
Foi então que soprou sobre o tempo o vento fresco e salutar da Revolução resgatadora.
No oriente o comunismo mostrava o seu perfil ousado, no Oci­dente, erguiam-se alterosas as ondas renovadoras dos fascismos.
Homens livres, ou cuja mais ardente aspiração era a liberdade na sua expressão espiritual e económica. - Homens livres, os homens do Ocidente dificilmente poderiam amar regimes em que a liberdade estivesse totalmente em jogo.
FORMA OCIDENTAL DA REVOLUÇÃO
o clamor que se ergue nas praças públicas da Itália e mais tarde nas 'da Alemanha, traduzia o aplauso popular destes povos pelas fór­mulas em que os novos chefes' lhe interpretaram os anseios.
Fórmulas antiburguesas. Fórmulas anticapitalistas.
Fórmulas que proclamavam os direitos sindicais de todos os trabalhadores.
Fórmulas que reclamavam uma mais equitativa distribuição da riqueza.
Fórmulas que davam ao homem maiores garantias de justiça con­tra os abusos dos poderosos, fosse qual fosse o signo do seu poder.
Fórmulas de ruptura com o passado e fórmulas de novos cami­nhos para um mundo melhor.
Se a batalha se travava sob a inspiração desta bandeira, como não havia ela de mobilizar as sinceridades e os entusiasmos da gera­ção saída da guerra e que a guerra fizera com a ínstintiva esperança numa mudança dos destinos? ..
RESPONSABILIDADE DOS FASCISMOS PERANTE A REVOLUÇÃO
Assím, sejam quais forem as responsabilídades por que Mussolíni e Hítler tenham que responder perante a Hístória dos seus povos­outras igualmente graves eles assumíram perante a Revolução.
Com as primeiras, têm italianos e alemães, mas, as outras, dizem respeito a todos os que na Revolução põem as suas esperanças.
Não há, portanto, que considerar deselegância ou crueza no julga­mento, que, um puro pensamento revolucionário haja de fazer da obra fascista ou nazista plano dos interesses sagrados da Revolução.
CONDENAÇÃO DO TOTALITARISMO
Ora, em verdade, a Revolução é completamente estranha à aven­tura imperial de Mussolini como à aventura imperialista de Hitler. Uma e outra poderiam ter resultado benéficas para a Itália ou para a Alemanha, tal qual como lhe foram fatais. O facto é evidente, porém, e nele está o aspecto amargo da decepção que estas aventuras repre­sentam para um verdadeiro espírito revolucionário, o facto indiscutível é que elas redundaram pura e simplesmente em aventuras imperiais.
Tudo foi conduzido, condicionado ou inspirado por esta intenção.
Tudo foi oferecido, sacrificado, ou condicionado para esta resultante.
O Estado, as organizações, os homens e as coisas, tudo foi consi­derado apenas, ou foi considerado principalmente, em função de certa aspiração suprema: uma maior Itália, uma maior Alemanha.
Repete-se, ainda que para estes dois povos o problema poderia merecer ser equacionado em função de tal incógnita. Para a Revolução porém equacioná-Io assim é obstar às soluções que dele se esperavam.


Por isso, a forma ocidental da Revolução- o apoio do Homem na comunidade - nação, grupo económico, família - para melhor conquistar a possibilidade do seu desenvolvimento espiritual e material, mereceram a adesão de quantos almejavam por uma nova ordem, ordem solidarista e humana.

o clamor que se ergue nas praças públicas da Itália e mais tarde nas 'da Alemanha, traduzia o aplauso popular destes povos pelas fór­mulas em que os novos chefes' lhe interpretaram os anseios.
Fórmulas antiburguesas. Fórmulas anticapitalistas.
Fórmulas que proclamavam os direitos sindicais de todos os trabalhadores.
Fórmulas que reclamavam uma mais equitativa distribuição da riqueza.
Fórmulas que davam ao homem maiores garantias de justiça con­tra os abusos dos poderosos, fosse qual fosse o signo do seu poder.
Fórmulas de ruptura com o passado e fórmulas de novos cami­nhos para um mundo melhor.
Se a batalha se travava sob a inspiração desta bandeira, como não havia ela de mobilizar as sinceridades e os entusiasmos da gera­ção saída da guerra e que a guerra fizera com a ínstintiva esperança numa mudança dos destinos? ..
RESPONSABILIDADE DOS FASCISMOS PERANTE A REVOLUÇÃO
Assím, sejam quais forem as responsabilídades por que Mussolíni e Hítler tenham que responder perante a Hístória dos seus povos­outras igualmente graves eles assumíram perante a Revolução.
Com as primeiras, têm italianos e alemães, mas, as outras, dizem respeito a todos os que na Revolução põem as suas esperanças.
Não há, portanto, que considerar deselegância ou crueza no julga­mento, que, um puro pensamento revolucionário haja de fazer da obra fascista ou nazista plano dos interesses sagrados da Revolução.
CONDENAÇÃO DO TOTALITARISMO
Ora, em verdade, a Revolução é completamente estranha à aven­tura imperial de Mussolini como à aventura imperialista de Hitler. Uma e outra poderiam ter resultado benéficas para a Itália ou para a Alemanha, tal qual como lhe foram fatais. O facto é evidente, porém, e nele está o aspecto amargo da decepção que estas aventuras repre­sentam para um verdadeiro espírito revolucionário, o facto indiscutível é que elas redundaram pura e simplesmente em aventuras imperiais.
Tudo foi conduzido, condicionado ou inspirado por esta intenção.
Tudo foi oferecido, sacrificado, ou condicionado para esta resultante.
O Estado, as organizações, os homens e as coisas, tudo foi consi­derado apenas, ou foi considerado principalmente, em função de certa aspiração suprema: uma maior Itália, uma maior Alemanha.
Repete-se, ainda que para estes dois povos o problema poderia merecer ser equacionado em função de tal incógnita. Para a Revolução porém equacioná-Io assim é obstar às soluções que dele se esperavam.
Estado forte para garantia das liberdades perdidas no clima de licença e de corrupção plutocratas eis o que proclamavam na oposição o fascismo e o nacional-socialismo. Estado forte para assegurar hege­monias nacionais, tal foi a realidade da sua acção veriticada no Poder.
Para que se realizasse o pregão das propagandas, impunha-se: o esmagamento da alta finança e a solução do problema do crédito em proveito das possibilidades económicas de todos; o Estado sindical, para que desaparecesse a tirania dos que exploram sobre os que são explorados; o Estado representativo, justo fiel da liberdade e da espon­taneidade de todos os valores e tendências populares.
Que se viu então?
Viu-se um Estado máquina de guerra, regime de burocracia infi­nita, engrenagem fria e discricionária dentro da qual se assegurou o 5tato quo da injustiça sem recurso, da opressão sem resistência, da abdicação sem esperança.
Estado «monólogo» em que uma voz e sempre a mesma é a única que se ergue e a única que tem razão para se erguer, Estado indiscutivel e que nunca se pode enganar; Estado plutocrata e que se apoia em plutocratas; Estado explorador e que consente que outros explorem também; Estado unidade que liquida toda a diversi­dade criadora, toda a independência rectificante.
Estado que fez apelo aos vícios e às fraquezas do Homem-­interesse, ganância, delação, adulação, servilismo - corrompendo-o para melhor o dominar e conduzir; Estado que não aceita colaboradores, mas criados; Estado, enfim, que repele os homens de carácter, pois deseja cúmplices.
Traição burguesal
Pois que é na verdade esse tal regime senão o supremo triunfo de um conceito burguês de Poder, sem os limites que consegue impor o clamor de uma opinião pública, o conselho de uma tradição, ou os escrúpulos de uma sensibilidade aristocrata?
Não surgem aqui bem manifestas as naturais caracteristicas de um regime oligárquico - tais como a burguesia as criou no caminho da Hist6ria?
É indiscutivell A aliança burguesa foi fatal aos fascismos. Nas mãos da sua traição subtil mas invencivel, os chefes da Itália e da Alemanha esqueceram que tinham começado na glória de Paladinos e vieram assim acabar na tragédia de Tiranos.

Ohl totalitários, ohl sonhadores, imprudentes do Estado indiscuti­vel, ohl estadistas que esqueceis as liberdades sagradas, aí tendes a massa elementar, a argila humana com que edificar a torre de mena­gem da Justiça e os muros fortes da cidade futura. Pensai um pouco no que irá por esse mundo ... se entregarmos totalmente, seja ele a quem for, os nossos próprios destinos.


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