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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

«JEAN JAURÈS» - EMÍLIO COSTA






          «JEAN JAURÈS»
Emílio Costa
Colecção Homens e Ideias II
Livraria Peninsular Editora
LISBOA - 1931
255 pags.


 ´UM DIA VIRÁ , TALVEZ, EM QUE SEREMOS
ABATIDOS PRECISAMENTE POR UM DAQUE-
LES QUE QUEREMOS EMANCIPAR. MAS QUE
IMPORTA, AFINAL! O ESSENCIAL, NÃO É QUE
ATRAVÉS DOS INÚMEROS ACIDENTES DA VIDA
E DAS AGITAÇÕES DA HISTÓRIA, SEJAMOS 
POUPADOS PELO FAVOR DOS HOMENS OU
POR GRAÇA DAS COISAS. O ESSENCIAL É QUE 
PROCEDAMOS SEGUNDO O NOSSO IDEAL,
QUE DEMOS A NOSSA FORÇA EFÉMERA AO
QUE JULGAMOS SER A JUSTIÇA E QUE FAÇA-
MOS OBRA DE HOMENS, ENQUANTO, NÃO 
VEM A HORA DO REPOUSO ETERNO, NO
SILÊNCIO E NA NOITE.
                                             JEAN JAURÈS



HOMENAGEM DEVIDA


A primeira vez que vi Jaurès e o ouvi falar, foi na grande sala de festas da ´Casa do Povo`, de Bruxelas. Tinha-se realizado uma conferência do ´Bureau Socialiste International`, para se discutirem vários assuntos, entre eles o da atitude dos socialistas em caso de guerra, Foi em março de1906, há um quarto de século. Muitas vezes depois, os socialistas de todas as cores haviam de discutir a mesma grave questão, e sempre com o mesmo resultado prático: o da impotência, no campo do impedimento da guerra. Àquela reunião assistiram as principais figuras do socialismo europeu, como Bebel, Vaillant, Kautsky, Keir Hardy, Hindman, etc.

Lembro-me muito bem do discurso de Jaurès me ter produzido uma forte impressão, tanto mais, quanto se estabelecia uma comparação com outros que também falaram, e que lhe eram manifestamente inferiores. Mau grado meu, sentira-me abalado pela eloquência e pela lógica que passava através das palavras daquele formidável orador: e era talvez esse abalo, o que, no fundo, irritava um pouco o meu amor próprio de  adversário de tendências, de Jaurès. E então, numa pequena crónica que enviei para um jornal operário de Lisboa, ´A Obra`, (bons tempos!) como que me vinguei do abalo sofrido, embora rendendo justiça à eloquência persuasiva do orador. numa forma com pretensões a humorística. 

E dizia: «Falou a seguir Jaurès. Que canário, meus amigos! Quem não estiver prevenido e tiver ainda algumas ilusões sobre políticos e parlamentares, cai-lhe no papo, pela certa. O que ele disse dos financeiros, de Marrocos, da guerra e do socialismo! E o mais bonito é que eram verdades como punhos; mas ele é político e como tal tem duas personalidades: uma para a massa e outra para os ´bureaus` e parlamentos». Chôco humorismo, como se vê, a encobrir despeito pelo abalo sofrido; mas era preciso afirmar a ideologia contrária, não se fosse julgar que pertencíamos ao número dos iludidos e desprevenidos! Arrogância da mocidade e da inexperiência: tempo que custa muito a admitir a perfeita sinceridade, a boa fé, o idealismo dos adversários, mesmo quando eles se chamam Jaurès!

Depois, mais algumas vezes o ouvi no Parlamento e em reuniões populares. A impressão da eloquência era sempre profunda; e como os anos iam passando, ia-se modificando o primeiro sentimento, o de despeito, substituído por uma admiração pelo tribuno e um respeito pelo idealista, não disfarçados, que nunca tiveram ocasião de se desmentir, antes, com os anos e a experiência que eles trazem, só se têm fortalecido.

Hoje, entre tantos grandes nomes que a ideia socialista conta, considero Jaurès como pertencendo às cinco ou seis maiores figuras, com Karl Marx, Reclus, Bebel, Kropotkine e Lenine. E se tive dúvidas em transcrever aqueles pobres palavras de crítica de há 25 anos, é com prazer que transcrevo as seguintes , que publiquei na revista ´Germinal`, em 1916, dois anos depois da sua morte, palavras mais serenas e harmónicas com o sentimento, ainda que continuasse sendo, como fora antes e sou ainda, contrário à orientação política que Jaurès seguia:

«Jaurès vivo, não teria evitado a  guerra nem lhe teria mudado o rumo; mas Jaurès morto, é uma grande força que se perdeu, em favor da paz; da democracia, do internacionalismo. Não há homens insubstituíveis, mas há homens que fazem muita falta e Jaurès é desse número. Estas nossas palavras são tanto mais insuspeitas, quanto Jaurès seguia uma orientação bem diferente, na luta social, da que nós seguimos. Mas é que faz sempre falta um homem cuja sinceridade é servida pelo saber e pelo talento. E há tão pouco disso!»

Se apesar da diferença de orientação, eu coloco Jaurès tão alto, é porque, mais do que um profundo espírito filosófico, mais do que um grande orador, mais do que um incansável propagandista e excecional trabalhador, ele foi uma natureza essencialmente ´humana` , dentro do seu ideal socialista, profundamente sentido. Jaurès era a ´Simpatia social` feita homem. 

Ninguém, que eu saiba, dentro dos servidores do socialismo, elevou mais alto esse dom de descobrir as relações de simpatia entre as várias correntes duma ideia, vendo o ideal no conjunto delas, ligando-se umas às outras, numa ascensão contínua do todo para o fim, que brilha lá no alto e ao qual todos aspiramos. E é bom adotar por divisa o célebre ´Homo sum; humani nihil a me alienum puto` (´sou homem`: e nada do que é humano é para mim estranho) é muito melhor, como Jaurès, senti-lo e praticá-lo.


                                                                                                         EMÍLIO COSTA




NOTA: É com espírito de ´serviço humilde` que transcrevo e digitalizo textos de grandes autores!
Por esse facto, só por necessidade citarei informações gerais que nada significam!... Citarei, sim, aquilo que o meu discernimento de estudioso erudito (desprovido de auxílio na digitalização e fazendo-o com grande dificuldade e ´pena`)
Interrogo-me sobre a razão de ao pesquisar um item, ser enviado para generalidades ocas, que são úteis ao grande público e a omissão, decerto sem intenção, de artigos em que esse item é citado, especialmente quando é algo que é ´seu`...





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