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segunda-feira, 20 de abril de 2009

«COMO ISRAEL REAGE AO TERRORISMO»1976) (I)





OPERAÇÃO THUNDERBOLT/YONATAN

RESGATE ENTEBBE - UGANDA - 1976


Kulam lishkvav! Todos no chão. Somos do exército israelense”. Com estas palavras,o soldado Amos Goren anunciava às 103 pessoas mantidas como reféns por um grupo
de terroristas, no Aeroporto Internacional de Entebe, que a história de seu trágicoseqüestro, iniciado no dia 27 de junho de 1976,poderia ter um final feliz.
Inicialmente denominada “Operação Thunderball”, tornou-se internacionalmente conhecida como “Operação Yonatan” e foi tema de inúmeros filmes e livros. O nome da missão foi modificado em homenagem ao comandante da força-tarefa, o tenente coronel Yonatan Netanyahu (irmão do ex-Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu), único militar israelense morto durante a ação. Essa foi a missão mais famosa da unidade Sayeret Mat'kal.
O drama dos reféns começou com o seqüestro do Airbus A 300 da Air France durante o vôo AF 139, Tel Aviv-Paris, com escala em Atenas, na Grécia, com 258 pessoas a bordo. Oito minutos após a decolagem, a aeronave foi dominada por quatro terroristas, dois dos quais possuíam passaportes de países árabes, um do Peru com o nome de A. Garcia e uma mulher do Equador de nome Ortega. Posteriormente, descobriu-se que os dois últimos eram membros da organização terrorista alemã Baader-Meinhof (Wilfried Bõse "Garcia" e Gabriele Krõcher-Tiedemann "Ortega" ). O avião foi desviado para Entebe após aterrissar em Bengazi, na Líbia, para reabastecimento e chegou a Uganda na madrugada do dia 28.

Os quatro terroristas haviam vindo do Kuwait pelo vôo 763 da Singapore Airlines e iam com destino a Bahrein. Entretanto, ao desembarcar em trânsito, os quatro dirigiram-se ao check-in do vôo AF 139 da Air France.
Pilotado pelo comandante Michel Bacos, o avião francês decolou do aeroporto Ben-Gurion às 8h59, chegando em Atenas às 11h30.

Desembarcaram 38 passageiros e embarcaram 58, entre os quais, os quatro seqüestradores. O total a bordo era então de 246 pessoas, mais a tripulação.

12h20, a aeronave já cruza os céus novamente rumo ao seu destino final: Paris. Oito minutos após a decolagem, enquanto as aeromoças preparam-se para servir o almoço, os terroristas assumem o controle do avião.
As autoridades aeroportuárias em Israel e a estação de controle da Air France percebem que perderam contato com o vôo AF 139, alguns minutos após a decolagem em Atenas. Os ministros de Transporte e da Defesa, que participam da reunião semanal do gabinete com o primeiro-ministro Yitzhak Rabin, são imediatamente informados. Apesar de não saber ainda o que acontecia a bordo, o setor de Operações das Forças de Defesa de Israel (FDI) prepara-se para um eventual pouso da aeronave em Lod.

14h00, o Airbus comunica-se com a torre de controle do aeroporto de Bengazi, Líbia, solicitando combustível suficiente para mais quatro horas de vôo, além de pedir que o representante local da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) seja encaminhado ao local. Descobriu-se então que a FPLP estava a frente do seqüestro.
14h59, o aparelho desce em Bengazi e apenas uma mulher é libertada. Ela consegue convencer os terroristas e um médico líbio que está grávida e sob risco de aborto. Na verdade, está indo para o enterro de sua mãe em Manchester, Inglaterra. Após algumas horas, parte para seu destino.

Em Israel, terminada a reunião, Rabin convoca ao seu gabinete alguns ministros – Peres, da Defesa; Yigal Allon, das Relações Exteriores; Gad Yaakobi, dos Transportes; e Zamir Zadok, da Justiça. Fosse qual fosse o desfecho da história, esses homens teriam que tomar decisões e estavam-se preparando para isso, pois já sabiam que dentre os passageiros havia 77 com passaporte israelense. Rígida censura é imposta aos meios de comunicação para que não divulguem listas de passageiros e para impedir a veiculação de informações que possam, de alguma maneira, ajudar os seqüestradores. Iniciam-se, também, contatos com os familiares dos viajantes.
Em Bengazi o avião permanece seis horas e meia, durante as quais é reabastecido - "por preocupação humanitária do governo líbio para com os passageiros", segundo o coronel Kadafi.
21h50, o Airbus parte de Bengazi, voando à noite em direção ao sul, sobre o Saara líbio e o Sudão, afastando-se cada vez mais do Oriente Médio.
03h15, horário local em Uganda, 28 de junho, o avião aterrissa no aeroporto de Entebe. Em Israel, as unidades da FDI, em alerta no aeroporto, recebem ordens para retornar às suas bases. O que aconteceria dali em diante não exigiria medidas especiais em território israelense.

Ao amanhecer, paira em Israel e no mundo um clima cheio de dúvidas. Uganda seria o destino final dos seqüestradores ou apenas uma escala para abastecimento? Como estaria reagindo o governo de Idi Amin Dada diante dos acontecimentos – seriam anfitriões hostis ou parceiros no seqüestro? Afinal, desde 1972, as relações entre Israel e Uganda não eram amigáveis, pois o governo israelense havia-se recusado a fornecer jatos Phantom ao país, sabendo que Uganda pretendia usá-los para bombardear o Quênia e a Tanzânia. Idi Amin havia, então, expulsado todos os israelenses do país.
Oficialmente, o ditador de Uganda adotou uma atitude neutra em relação aos seqüestradores, mas na realidade eles eram bem-vindos. Líderes palestinos encontravam-se no aeroporto para receber o avião, bem como unidades do Exército de Uganda. Os reféns foram conduzidos para o prédio do antigo terminal do aeroporto.

Na terça-feira, dia 29, uma mensagem vinda de Paris, que primeiramente foi divulgada pela rádio de Uganda, revela os objetivos dos seqüestradores: a libertação até às 14h do dia 1 de julho de 53 terroristas – 13 detidos em prisões da França, Alemanha Ocidental, Suíça e Quênia, e 40 em Israel. Caso suas reivindicações não fossem atendidas explodiriam o avião com todos os passageiros.
Israel, a nação mais afetada, havia sempre deixado claro que nunca negociaria com o terrorismo e que estava preparado para derramar o sangue de seus cidadãos a fim de se ater a seus princípios. Em maio de 1974, por exemplo, terroristas tinham seqüestrado os alunos de uma escola de Maalot, na Galiléia; as Forças de Defesa de Israel (FDI) invadiram o edifício e fuzilaram os pistoleiros, mas à custa de 22 crianças mortas. Em Entebbe, entretanto, parecia impossível que Israel reagisse, pois apenas 105 reféns eram judeus - e o governo israelense seria criticado pela opinião pública mundial se pusesse em risco a vida dos outros.
Na quarta-feira, 30, França e Alemanha afirmam que não soltariam os terroristas, posição que se supunha seria a mesma de Israel. A França, no entanto, revela uma certa flexibilidade ao anunciar que seguiria a posição do governo israelense que, até então, mantinha-se em compasso de espera, aguardando o desenrolar dos acontecimentos.
Curiosamente, na mesma quarta-feira,foram os próprios terroristas que desperdiçaram sua maior vantagem. Sem atinar para as implicações de seu ato, separaram os reféns não-judeus e, aparentemente num gesto de consideração para com os outros países, permitiram que 47 reféns, – exceto israelenses ou judeus – retomassem sua viagem para a França. O capitão Bacos e sua tripulação recusam-se a acompanhar o grupo, afirmando que não abandonariam os demais passageiros. Uma freira francesa também insiste em ficar, mas é impedida pelos terroristas e pelos soldados ugandenses.

A libertação de alguns reféns e a evidência cada vez maior de que o principal alvo dos terroristas era pressionar Israel, aumentam a tensão em Israel e a pressão dos familiares para que o país atenda às exigências dos seqüestradores. Nos círculos militares e altos escalões do governo, reuniões e mais reuniões são realizadas, além do levantamento de informações feito pela Inteligência em busca de dados que possam ser úteis a uma eventual ação de resgate. Novos nomes integram-se às reuniões entre as FDI e os ministros, entre os quais, o general brigadeiro Dan-Shomron, 48 anos, chefe dos pára-quedistas e oficial de infantaria; o general Benni Peled; e Ehud Barak, vice-diretor do Serviço de Inteligência das FDI.

A confirmação dada pelos reféns soltos, meticulosamente entrevistados pelos serviços secretos da França e de Israel, de que o governo de Idi Amin estava apoiando os terroristas foi fundamental para as medidas que seriam tomadas por Israel a partir de 1 de julho, quinta-feira, quando, 90 minutos antes de expirar o prazo dado pelos seqüestradores, o gabinete se reúne e aprova o início de negociações com os terroristas. Estes, por sua vez, afirmam não estar interessados em negociações e sim no atendimento de suas reivindicações, estendendo o prazo até às 14h do dia 4 de julho.

É nesse 1 de julho que o Serviço de Inteligência descobre que o aeroporto de Entebe fora construído por uma empresa israelense – Solel Boneh, o que possibilita o acesso às plantas originais do local. Cada vez mais, após intensos encontros com oficiais do exército, Peres convence-se de que a opção militar é possível e que é apenas uma questão de tempo para que todas as peças do quebra-cabeça se encaixem. Tempo, no entanto, é algo que Israel não tem.

A opção militar desponta como caminho viável. A principio os israelenses trabalham com três opções:
a) Um lançamentos de pára-quedistas no Lago Victoria e um silencioso desembarque em Entebbe usando barcos de borracha;
b) Um cruzamento em grande escala do Lago Victoria, partindo da margem queniana - usando barcos que poderiam ser alugados, emprestados ou simplesmente roubados;
c) Um pouso direto em Entebbe, seguido de um assalto rápido e uma remoção imediata dos reféns por ar por forças especiais da unidade Sayeret Mat'kal.
Nos dois primeiros planos, após libertar os reféns, os israelenses iriam depender da ajudar de Idi Amin ou da intervenção da ONU para sair de Uganda. Porém nas próximas horas, as duas primeiras opções seriam descartadas por razões militares e porque os dados colhidos em Paris confirmavam que Idi Amin estavam apoiando os terroristas. Sendo assim o assalto direto a Entebbe seria a opção adotada.
O General-Brigadeiro Dan-Shomron é nomeado comandante da missão em terra e Yoni Netanyahu, comandante da unidade Sayeret Mat'kal, comandante da força-tarefa que a executará. Uma réplica do antigo terminal de Entebe é construída para simulação da operação, com base nas plantas obtidas junto à Solel Boneh e em fotografias aéreas, e os comandos começam a treinar. Enquanto isso, um grupo de 101 reféns – excluindo-se israelenses e judeus de outras nacionalidades – chega a Paris. Trazem duas informações essenciais para Israel: a primeira, de que haveria menos pessoas para resgatar; a segunda, de que apenas judeus estavam sendo mantidos como reféns, além da tripulação, o que, para o governo, significava que os seqüestradores possivelmente acabariam matando a todos, mesmo que suas exigências fossem atendidas.

12h do dia 2 de julho, sexta-feira, os chefes dos comandos da missão, então denominada “Thunderball”, apresentam os planos detalhadamente para Shomron. Duas horas depois, Yoni reúne-se com os oficiais para as ordens finais, antes de mais uma simulação na réplica do aeroporto, incluindo o pouso dos aviões nas pistas sem iluminação de Entebe. O ensaio levou 55 minutos, do momento em que o avião aterrissou até a sua decolagem. A preocupação maior entre todos os envolvidos é obter o máximo do “elemento-supresa”.
O ponto fundamental do plano de Shomron era fazer aterrissar em Entebbe, no meio da noite, quatro aviões Hércules C-130 de transporte, que descarregariam tropas da unidade Sayeret Mat'kal e veículos. Para evitar que os aviões fossem detectados, o primeiro Hércules seguiria imediatamente atrás de um avião de carga inglês cujo vôo regular era esperado no aeroporto de Entebbe.
As tropas que realizariam a ação em terra estavam divididas em cinco grupos de assalto:
Grupo de Assalto 1: se encarregaria da segurança da pista e dos aviões (era formado por 33 médicos que também eram soldados);
Grupo de Assalto 2: tomar o edifício do antigo terminal e libertar os reféns;
Grupo de Assalto 3: tomar o edifício do novo terminal;
Grupo de Assalto 4: impedir a ação das unidades blindadas de Idi Amin (estacionadas em Kampala, a 30 km de distância) e destruir os aviões de combate ugandenses Mig 17 e Mig 21 estacionados no aeroporto, para impedir uma possível perseguição. Este grupo também iria cobrir a estrada de acesso ao aeroporto, pois sabia-se que o Exército ugandense tinha tanques T-54 soviéticos e carros blindados OT-64 tchecos para transporte de tropas a aproximadamente 32 km da Capital Kampala;
Grupo de Assalto 5: evacuar os reféns, conduzindo-os para o Hércules que estaria à espera e seria reabastecido no local ou em Nairóbi, no vizinho Quênia - um dos poucos países africanos amigos de Israel.
Levando em conta que haveria inúmeras baixas, um Boeing 707, transformado em avião-hospital, voaria diretamente para Nairóbi durante o ataque. Ao mesmo tempo, outro 707 sobrevoaria Entebbe transmitindo informações ao quartel-general em Israel.
Na medida do possível, tudo foi feito para eliminar os riscos. Sabia-se, por exemplo, que Amin uma vez chegara a Entebbe num Mercedes preto escoltado por um Land Rover, e veículos como esses foram embarcados no Hércules que iria à frente, com o objetivo de confundir os ugandenses nos vitais primeiros minutos.
1h da madrugada do dia 3 de julho, sábado, Motta Gur telefona para Peres e o informa que os homens estão preparados e que a operação pode ser executada.

13h20 do dia 3 de julho de 1976, sábado, o tenente coronel Joshua Shani inicia a decolagem do primeiro dos quatro aviões Hércules C-130, do Aeroporto Internacional Ben-Gurion, em Lod, com destino a Entebe. Poucos segundos depois, cada um dos outros aparelhos também parte, porém em direções diferentes. Afinal, a passagem de quatro Hippos (“hipopótamos”), como são descontraidamente chamados por suas tripulações, em horários semelhantes, não passaria desapercebida sobre os ensolarados céus de Tel Aviv, durante um verão que prometia ser tão quente quanto os anteriores. E o que menos se pretendia, naquele dia, era chamar a atenção e provocar especulações.

A bordo dos Hippos, a força-tarefa especial comandada por Shomron e Yoni tinha um objetivo bem definido: libertar os reféns em Entebe. Apesar de a missão de resgate não haver sido, ainda, aprovada pelo gabinete israelense, a partida dos aviões fora autorizada pessoalmente por Rabin, senão não haveria tempo hábil para sua execução. A permissão fora dada a Motta Gur.

Enquanto os ministros se reúnem para analisar as possíveis alternativas para a situação, incluindo a possibilidade de o país atender às exigências dos terroristas, os aviões aterrissam em Sharm el-Sheik, na região do deserto do Sinai, para abastecer e partem novamente rumo a Uganda, voando a baixa altitude sobre o Mar Vermelho para não serem detectados por sistemas de radares.
O ponto fundamental no plano de Shomron consistia em fazer aterrissar o primeiro Hércules imediatamente atrás do avião de carga inglês que estava sendo esperado em terra, pois este não apenas absorveria a atenção dos operadores de radar ugandenses como também encobriria o ruído feito pêlos aviões israelenses. A precisão tinha de ser absoluta - e foi. Sete horas depois da decolagem, a força israelense aproximava-se de Entebbe, num céu carregado de chuva, sempre na escuta do comandante inglês, que recebia as instruções da torre de controle. O C-130 de Shomron colocou-se exatamente atrás do cargueiro.
Eram 23h e o tenente coronel Shani desce silenciosamente o seu Hippo em Entebe depois de sete horas e meia de vôo e a distância de quatro mil quilômetros desde a decolagem em Israel. A lendária capacidade de precisão de aterrissagem do Hércules foi bem explorada. O pessoal que deveria cuidar da segurança da pista desceu rapidamente. Os operadores de radar não perceberam o intruso e nenhum alarma foi dado. Por esse erro, seriam logo depois mortos pelo enraivecido e humilhado Idi Amin.
O Hércules seguiu para uma área mais escura da pista e, enquanto o cargueiro inglês taxiava, o Mercedes e dois Land Rover desceram a rampa, transportando o grupo que iria assaltar o velho terminal. O Hércules seguiu para uma área mais escura da pista e, enquanto o cargueiro inglês taxiava, dez membros da brigada de infantaria Golani saltam do avião e espalham sinais para orientar a aterrissagem das outras três aeronaves, que se aproximam rapidamente. A rampa de carga é aberta e por esta desliza um Mercedes preto, artifício considerado fundamental para a missão, dois Land Rover e 35 membros da força-tarefa, entre eles Netanyahu. Os militares que iam no Mercedes estavam vestidos com uniformes ugandenses.
Mas os ugandenses logo perceberam a farsa e a 100 m do terminal duas sentinelas, com metralhadoras apontadas, ordenaram ao carro que parasse. Netanyahu e outro oficial abriram fogo com pistolas dotadas de silenciador, atingindo um dos homens, e o grupo seguiu em frente até uns 50 m do edifício, A partir daí, os israelenses foram a pé. Os reféns estavam todos deitados no salão principal e muitos dormiam. Quatro terroristas haviam sido deixados montando guarda, um à direita, dois à esquerda e um no fundo do salão. Todos estavam de pé e puderam ser identificados .por causa das armas que portavam. Apanhados de surpresa, foram mortos imediatamente, e o grupo de assalto subiu pelas escadas. Os reféns advertiram que havia mais terroristas e soldados ugandenses no andar de cima. As ordens eram para tratar os ugandenses como inimigo armado, se abrissem fogo; caso contrário, seriam poupados. Mas para os terroristas não haveria misericórdia. Diversos deles foram eliminados à queima-roupa enquanto dormiam. Ao todo, morreram 35 ugandenses e treze terroristas - entre os quais Bõse e Krôcher-Tiedemann. Cerca de sessenta soldados ugandenses fugiram do edifício. A ação no terminal antigo durou três minutos.
Sete minutos depois que o primeiro Hércules aterrissou, o segundo pousava, seguido pelo terceiro e pelo quarto. Logo que as rampas eram baixadas, jipes e veículos de transporte saíam em disparada, atravessando a pista. O grupo comandado pelo coronel Matan Vilnai assaltou o edifício do novo terminal, que havia sido apressadamente abandonado pêlos ugandenses. As tropas de Amin pareciam totalmente confusas e incapazes de esboçar uma reação coerente. A única resistência determinada vinha da torre de controle, de onde partiu a rajada que feriu mortalmente Netanyahu, postado do lado de fora do velho terminal. Mas a unidade de Vilnai eliminou esse núcleo de oposição graças ao fogo concentrado de metralhadoras e lança-granadas.
O grupo do coronel Uri Orr encarregou-se do embarque dos reféns no avião que os aguardava. A equipe que tinha ordens de eliminar os Migs 21 e 17 ugandenses levou poucos minutos para transformar onze deles em bolas de fogo com rajadas de metralhadoras. O último dos quatro Hippos, com Shomron a bordo, parte de Entebe às 00h30 do dia 4 de julho – 90 minutos depois de o primeiro ter aterrissado.
Após uma breve escala em Nairobi, para reabastecimento e a transferência dos feridos para um Boeing com um hospital a bordo. Apesar de todos os esforços dos médicos – então chefiados pelo coronel Ephraim Sneh, Yoni não resiste aos ferimentos e falece. O saldo total de mortos da Operação Yonatan: 4 –Yoni e três reféns – dois mortos no fogo cruzado com os terroristas e uma senhora de idade, Dora Bloch, que havia sido transferida para um hospital de Uganda e que posteriormente foi assassinada por ordem de Idi Amin. Depois de reabastecer, os israelenses tomaram o caminho de volta, às 4h08.
Nas primeiras horas da manhã do dia 4 de julho, o Hippo pilotado por Shani sobrevoa Eilat e desce em uma base da Força Aérea de Israel (FAI) na região central do país. Enquanto os reféns são atendidos pelas equipes de terra, as unidades de combate descarregam seus equipamentos. Em seguida, retornam às suas bases e retomam suas funções de rotina, afastados da euforia que tomava conta de Israel e da admiração e respeito que haviam conquistado em todo o mundo pelo que haviam feito naquela noite. Para eles, mais uma missão fora cumprida... Era o seu dever, para o qual são treinados.

Ainda no dia 4, aproximadamente ao meio-dia, um Hércules da FAI aterrissa no Aeroporto Internacional Ben-Gurion. De suas portas traseiras, 102 pessoas - homens, mulheres e crianças - correm em segurança para se reunir a seus familiares e amigos. A Operação Entebbe permanecerá para sempre como um feito extraordinário na história da aviação, embora a sorte tenha sido um fator essencial. Mas esse resgate nem mesmo seria cogitado se, para executá-lo, não existissem homens motivados e treinados em um nível verdadeiramente fantástico.

Nota: Segundo algumas informações, o Coronel Ulrich Wegener comandante da unidade antiterrorista alemã GSG 9, estava entre os comandos israelenses durante a operação, possivelmente devido à presença dos dois terroristas alemães. Em 1977, esta unidade realizaria uma grande operação de resgate também na África em Mogadíscio na Somália, quando Boeing 737 da Lufthansa foi seqüestrado.


General-Brigadeiro Dan-Shomron (à esquerda) com o chefe de Estado-Maior israelense Mordechai Gur (Á direira)
Operador da Sayeret Mat'kal em Entebbe, julho de 1976.
Ele está armado com fuzil automático AK-47 de fabrica-
ção soviética e para confundir o inimigo, está usando um
uniforme camuflado sírio. O ditador Idi Amin usava segu-
ranças palestinos que vestiam uniformes camuflados com
esta estampa.
Em 2001, Dan-Shomron, relembrou os fatos do resgate em Entebbe com naturalidade e não gostou muito de mencionar a palavra heroísmo quando falava da missão. Em uma entrevista publicada pela revista do The Jerusalem Post, no mês de junho de 2001, Shomron – que foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de 1987 a 1991 – afirma que vários fatores contribuíram para o êxito da missão.

O resgate foi planejado nos seus mínimos detalhes, considerando-se o tempo necessário para todas as etapas, incluindo as baixas que poderiam ocorrer. Segundo o ex-chefe das Forças Armadas, Entebe não foi uma missão suicida. Além dos dados precisos, o grupo era formado por cerca de 200 soldados escolhidos entre os melhores do país, dos mais altos escalões em cada unidade das FDI.
Shomrom relembra que os estrategistas já sabiam que o aeroporto de Entebe fora construído por uma empresa israelense – o que permitiu o acesso às plantas do local; informações importantes também foram obtidas junto a diplomatas e empresários israelenses que, até 1972, viajavam freqüentemente a Uganda, além da própria FAI, que, em função das boas relações diplomáticas entre Israel e Uganda no passado, conhecia bem as instalações. Reféns soltos pelos terroristas antes do dia 3 de julho também forneceram detalhes essenciais sobre o número de seqüestradores e sobre o local no qual haviam sido mantidos presos, Um dos reféns libertados posteriormente foi o rabino Raphael Shamah, na época
“Nós sabíamos que havia grandes probabilidades de o aeroporto ter passado por algumas modificações desde a sua construção. Mas estes dados também poderiam ser obtidos de alguma maneira. O elemento mais importante com o qual contávamos, no entanto, era a surpresa. Ninguém poderia imaginar que Israel tentaria realizar uma missão de resgate a quatro mil quilômetros de distância de suas fronteiras, sobrevoando o espaço aéreo de países hostis. Este elemento não poderia ser desperdiçado. Nós sabíamos que, se conseguíssemos chegar ao local sem ser descobertos, qualquer ação após o pouso em Entebe teria que ser muito rápida e deveria ser efetuada antes que os terroristas ou os soldados ugandenses que os apoiavam pudessem perceber o que estava acontecendo”, relembra Shomron. E acrescenta:

“O fato de não ser plausível era um ponto essencial para o sucesso”. Mais um fator contribuiu para o êxito da missão. Dos 13 terroristas envolvidos no seqüestro, apenas oito estavam no local. Segundo Shomron, aparentemente os demais estavam fora do aeroporto. Os soldados ugandenses também foram rapidamente dominados pelos commandos israelenses.
Quando perguntado como via a missão 25 anos depois, respondeu: “Combater o terrorismo exige, antes de mais nada, vontade política. Não há dúvidas de que o resgate provocou um impacto muito grande em Israel e no mundo, pois mostrou que é possível enfrentar o terror onde quer que este se manifeste. Desde então, vários países criaram unidades de combate ao terrorismo e aumentou o intercâmbio entre os vários Serviços de Inteligência”. Mas ele faz uma ressalva:

“O êxito criou a ilusão de que Israel sabe tudo e pode fazer tudo, em qualquer circunstância, o que não é verdade. Há situações em que se sabe muito e pode-se planejar quase tudo com exatidão. Em outras, não se sabe nada e, portanto, não se pode fazer nada. Por isso, quando me perguntaram qual dos participantes da ação poderia ser condecorado por heroísmo, respondi “nenhum”. Pois o resgate em Entebe foi uma missão planejada detalhadamente, treinada tantas vezes quanto possível dentro do pouco tempo que tínhamos e cuja execução foi tão semelhante ao nosso plano que não exigiu nenhum ato heróico para superar os problemas surgidos. Todos cumpriram com o mesmo empenho o seu dever de soldados”.


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