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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

«TAMBÉM EU VI»

TAMBEM EU VI! "Uma Morte no Deserto", poema de Robert Browning: 

Quando as minhas cinzas se espalharem, diz João, "não ficará sobre a face da Terra, nenhuma pessoa viva que tenha conhecido (considera bem isso!) -Visto com os seus olhos e tocado com as suas mãos -­Aquele que foi desde o princípio a Palavra da Vida. Como será quando mais ninguém disser: EU VI?"

Muitas vezes ficamos assustados com as nossas próprias dúvidas. O que fazer como Cristãos com as dúvidas? As dúvidas podem paralisar-nos, com medo de nos entregarmos ao Senhor. Podemos racionalizar a nossa fé de tal modo que não deixamos espaço para viver o Dens-Vivo, para reconhecer a verdade com o coração, não deixamos espaço para encontrar a luz. José Luís Martín Descalzo, em "Vida e Mistério de Jesus de Nazaré" diz nos o seguinte: E nós, nós pobres e pequenos homens que ainda mal conseguimos vislumbrar a sua grandeza? Que nos falta senão voltarmo-nos para Ele, para Lhe pedir que nos permita ver o seu rosto, vê-Lo, conhecê-Lo, amá-Lo e segui-Lo? Passaram vinte séculos desde que se retirou do nosso lado. E nós, como a antiga dama, cujo marido partiu para as Cruzadas, perguntamos às vezes se de facto voltará ou se morreu talvez por lá, em qualquer beco da história. Às vezes chegam-nos notícias dele. Notícias confusas. Alguém que diz que O viu. Mas não sabe muito bem onde. Nem sequer chega a saber com certeza se Aquele que viu era Ele mesmo ou outro parecido. E, entretanto, os cavaleiros deste mundo - o poder, o dinheiro, o egoísmo, o prazer - riem-se de nós, esposa abandonada, ... , Como Ter a coragem de continuar a esperar-Te? Ai quantos pedaços de fé e de esperança nós perdemos ao longo dos caminhos da vida' No entanto uma fé de certezas pode não levar a um caminho de Luz. As dúvidas ao gerarem uma crise geram também uma necessidade de resolução, esta pode ser aproveitada como uma oportunidade de progredirmos na fé e nos aproximarmos de Deus. Para os Cristãos é difícil "provar" a existência de um Deus-Vivo, e ainda mais de um Deus- Vivo que interfere na história. Uma teologia racional não convence ninguém, apenas uma teologia vivêncial, experiencial. Darmos testemunho de Cristo é a única maneira possível de ser Cristão. Mais do que saber explicar a nossa fé, somos todos convidados a vivê-la. Romano Guardini, um teólogo do nosso século diz assim: "Não há Doutrina nem sistema de valores nem atitude religiosa nem programa de vida susceptíveis de serem desligados da pessoa de Cristo e dos quais se possa dizer: aqui está o Cristianismo. O Cristianismo é Ele mesmo. A pessoa de Cristo é que faz o Cristianismo. E se alguém perguntasse o que há de certo na vida e na morte, tão certo que tudo o mais se possa fundamentar aí, a resposta é: o Amor de Cristo." A nossa única certeza é o Amor de Cristo; Deixarmo-nos amar por Cristo é então resposta para todas as nossas dúvidas. É essa certeza que nos faz perder o medo de arriscar e viver a aventura da entrega radical ao amor de Deus. Com esta certeza no coração não passamos a ser Senhores da verdade, com explicações racionais para tudo, apenas sabemos e sentimos Cristo de tal modo no meio de nós, que mesmo frágeis, cheios de dúvidas e crises sabemos que ele não nos abandona. Cristo, o verbo que se fez homem também duvidou, também vacilou, também ele teve medo. Do Evangelho segundo S. Mateus (Mt 26,36-39) Então, Jesus chegou com eles a um lugar chamado Getsemani e disse aos discípulos: «Ficai aqui, enquanto Eu vou além orar». E levando consigo Pedro e dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes então: «A minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai comigo». E adiantando-se um pouco mais caiu com a face por terra, orando e dizendo: «Meu Pai se é possível passe de Mim este cálice; todavia, não seja como Eu quero, mas, como Tu queres.» Assim se Cristo aceitou e viveu as suas dúvidas e medos também nós podemos aceitar as nossas. Os Cristãos não têm que ser super-homens, com fé inabalável, a santidade tem muito pouco a ver com heroísmo. Os Santos são homens que com todos as suas fraquezas se entregaram ao Pai, tal como Jesus eles são capazes de orar e confiar. Face à dúvida não há outra resposta senão a oração. Só quando a palavra e a oração têm influência sobre a acção, é que somos fiéis testemunhas de Cristo. Esta é a nossa verdadeira vocação, darmos testemunho de Cristo. E quando Jesus passa a fazer parte da nossa vida, apenas damos testemunho daquilo que somos. E como é que nós Cristãos, podemos dar testemunho deste Cristo? o Primeiro Cântico do Servo, do Livro do Profeta Isaías (Is 42,1-4) Eis o meu servo, que eu amparo, o meu eleito, no qual a minha alma se deleita; fiz repousar sobre ele o meu espírito, para que leve às nações a verdadeira Justiça. Ele não gritará, não levantará a voz, não clamará nas ruas. Não quebrará a cana rachada, não apagará a mecha que ainda fumega. Anunciará com toda a fidelidade a verdadeira Justiça. Não desanimará nem desfalecerá, até que tenha estabelecido a verdadeira Justiça sobre a terra. Viver o Amor de Cristo com simplicidade e humildade de coração. Este amor de Cristo cativa-nos e compromete-nos. E leva-nos a anunciarmos às nações a verdadeira justiça. Um Cristão tem que saber propor com toda a humildade a sua fé e nunca impô-la. Temos que nos manter abertos ao diálogo com outros povos, outras religiões, com crentes e não crentes. Este diálogo com os outros tem que ser fruto de um forte diálogo pessoal, de um grande discernimento interior, só porque aceito as minhas dúvidas, consigo aceitar e compreender as dúvidas ou certezas dos outros. Às dúvidas dos outros, posso apenas responder com a minha certeza do amor do Senhor. Só a vivência do Espírito poderá permitir dar testemunho aos que não o conheceram na carne, só Ele nos permite também dizer EU VI. Leitura do Livro do Profeta Isaías (Is 25,6-7) o Senhor dos Exércitos prepara para todos os povos sobre este monte um banquete de manjares suculentos, ... , Sobre este monte arrancará o véu que cobre todos os povos o pano que cobre todas as nações.

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