«A Crise da Europa»
Abel Salazar
Abel Salazar
Nº 31 - 4ª Secção-
Nº 2 - Povos e Civilizações -
d) Idade Moderna e Idade Contemporânea
Cosmos- Lisboa, 1942
Cosmos- Lisboa, 1942
Sumário:
Condições limitantes da História como Ciência
* Sistemas históricos* Idade da Europa
* Regressão económica*Dissolução mística do pensamento
* O Dilema da Europa
Não pode deduzir-se das teorias expostas neste trabalho que o homem tem de entregar-se, de braços cruzados, a um fluir fatal da história: e isto precisamente porque a vontade , a razão, a emoção, são forças integradas no mecanismo da história, sem as quais mesmo o seu movimento seria impossível. Por forma que, ao mesmo tempo, reconhecemos a impotência e a utopia das ideias, e a sua eficácia como forças.
Simplesmente, a par e passo que o homem se vai erguendo à consciência da mecânica da história, a sua posição modifica-se: e tende naturalmente - ou tenderá um dia - a utilizar em seu benefício o conhecimento dessas forças e as suas leis, em vez de lhe opor um imperativo ideológico ´a priori` - como tem feito até aqui e continua fazendo.
É esta a meu ver, a grande translação histórica que se nota, no fluxo do tempo, pelo que diz respeito às relações do homem com o mundo histórico.
Notemos ainda que o conhecimento da mecânica da história, longe de de ´mecanizar` o homem, o coloca numa posição que transcende essa mecânica, por conhecimento dela: como o homem transcende o mundo físico por conhecimento dele.
A verdadeira ´mecanização` do homem reside, pelo contrário, neste desconhecimento: porque então o homem é joguete ´inconsciente` das forças da História.
Desta forma - e ao contrário da maneira de ver geral - a ciência, e neste particular, a ciência da História, longe de ´mecanizar` o Homem, é a única forma deste se erguer acima dessa mecânica: pela ´consciência` que ele toma dela.
Até ao momento atual - e ainda no momento atual - o homem tem estado na posição - um tanto burlesca, forçoso é dizê-lo - de alguém que, junto dum regato que inunda o campo, tentasse desviá-lo de seus malefícios por apóstrofes religiosas, políticas ou sociais: em vez de, como faz o camponês, utilizar para esse fim a força da gravidade.
No fundo, a humanidade está hoje ainda num período primitivo de «magias»; onde apenas as magias do tipo primitivo foram substituídas pelas ideologias, utopias, místicas e outros imperativos análogos, em que reina ainda a fantasmagoria do mágico.
Por outra palavras, o período científico da História está ainda longe; a época atual, com seus conflitos, é talvez desse período o prelúdio.
Sendo assim, a evolução histórica será definida principalmente por esta translação do espírito humano da fase não científica para a fase científica: translação esta conduzindo o homem da inconsciência para a consciência da sua história. E como o conhecimento científico da história significa a possibilidade de utilizar as suas forças em benefício da humanidade, dentro pelo menos de certos limites, é de prever que a humanidade possa elevar-se, de futuro, a um nível social e moral incomparavelmente mais elevado do que o atual - tão elevado, relativamente, que ao Homem dessa época a história atual aparecerá como um conjunto de singulares paradoxos e de chocantes absurdos.
Por outro lado, como as Artes, em sentido largo, não são mais do que a expressão da Emoção ante o Mistério do Mundo, e que, assim, dependem de uma visão do Mundo, é de prever que, ante um novo panorama desse Mundo - o panorama da futura Ciência - terá lugar um renovamento da Emoção, e, portanto, um Renascimento das Artes: pois que esse novo panorama do Mundo terá igualmente, como o antigo, ou mais ainda do que o antigo, a sua carga emotiva de Mistério. E o Homem, avançando no Desconhecido, e dominando cada vez mais o Mundo e a História, verá assim aumentar essa carga emotiva, e será cada vez mais, no futuro, artista e poeta.
E, nestes diferentes sentidos, as possibilidades não têm limites nem fim.
A. S.
http://en.wikipedia.org/wiki/Abel_Salazar
http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2007/12/crise-da-europa.html
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