Rukmini Devi
Tributo à mulher especulativa
Aquilo que entre nós se designa, habitualmente por Hinduísmo ou Bramanismo, isto é, a religião da Índia , tem entre os hindus o nome de «Sanâtana Dharma» (Lei Eterna)!
Para o «Sanâtana Dharma», Brama é o Absoluto, exterior ao homem, é aquele mesmo que está dentro do coração. O Brama existe na personalidade humana como a imagem do sol num lençol de água.
O fim do Sanâtana Dharma realiza-se na identificação do Átman (alma, espírito pessoal) com Brama. É o 'Moksha' , ou 'Libertação'.
A ordem cósmica é exposta em diálogos célebres, tais os Upanishade(s). Um deles tem por interlocutores Yajnavalkya, brâmane ilustre e Gargi', mulher dialética e excecional pela consideração que lhe era testemunhada. O diálogo começa admitindo as águas como a trama do universo, porque, segundo o Veda, as Águas primordiais simbolizam a matéria.
Então Gargi interroga Yajnavalkya:
-Yajnavalkya, disse ela, se as águas são a trama com que tudo foi tecido, com que trama foram as mesmas águas tecidas?
-Com o ar ,ó Gargi.
-Com que trama foi o ar tecido?
-Com os mundos do espaço, ó Gargi.
-Com que trama foram tecidos os mundos do espaço?
-Com os mundos do sol, ó Gargi.
-Com que trama foram tecidos os mundos do sol?
-Com os mundos da lua, ó Gargi.
-Com que trama foram tecidos os mundos da lua?
-Com os mundos das constelações, ó Gargi.
-Com que trama foram tecidos os mundos das constelações?
-Com os mundos dos deuses, ó Gargi.
-E os mundos dos deuses, com que trama foram eles tecidos?
-Com os mundos de Indra, ó Gargi.
-E os mundos de Indra, com que trama foram eles tecidos?
-Com os mundos de Prajápati, ó Gargi.
-E os mundos de Prajápati, com que trama foram eles tecidos?
-Com os mundos de Brama, ó Gargi.
-E os mundos de Brama, com que trama foram eles tecidos?
Ele respondeu: ó Gargi, não perguntes demais; toma cuidado, porque a tua cabeça pode arrebentar. Perguntas além de uma divindade acima da qual nada mais há a perguntar. Não perguntes demais, ó Gargi.
E Gargi calou-se.
(Brhad aranyaka upa).
a tradução é minha (Alberto Castro Ferreira)