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terça-feira, 24 de março de 2009

«NEÓFITO, NÃO HÁ MORTE» (CANCIONEIRO)




INICIAÇÃO

FERNANDO PESSOA

Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.

......

O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.

......

A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.

......

Neófito, não há morte.

Fernando Pessoa



«As revelações da morte» - Leão Chestov


                                                      Presença de Leão Chestov





             as 
      revelações 
      da  morte 
          Leão Chestov

Tradução, Prefácio e Notas
                 de 
      Jorge de Sena

Na capa: 
Miguel Ângelo - 
- 'A Sibila de Delfos'

Círculo do Humanismo Cristão
Pessoa e Cultura - 2
Livraria Morais Editora
Lisboa - 1960
Composto e impresso na
Gráfica Imperial, Lda.
189 pags.

Nota do tradutor: Esta tradução que ora prefacio, foi feita há cerca de
vinte anos, por encomenda de Adolfo Casais Monteiro, para uma editora
que não chegou a poder publicá-la. Foi concluída e revista agora.
Assis, S. Paulo, Brasil, Maio de 1960

'Quem sabe?» - diz Eurípedes- «Talvez a vida seja a morte, e a morte a vida»!

Estas palavras, Platão, em um dos seus diálogos, fá-las repetir a Sócrates, o mais sábio dos homens, o criador da teoria das ideias gerais e o primeiro a considerar a nitidez e a claridade dos nossos juízos como índice da sua verdade. Em Platão, quase sempre Sócrates repete ou glosa as palavras de Eurípedes. Ninguém sabe se a vida não é a morte, se a morte não será a vida. Desde a mais remota antiguidade que os mais sábios vivem nesta enigmática ignorância; só os homens vulgares bem sabem o que seja a vida, o que seja a morte.

Como é possível, como tem sido possível que os mais sábios hesitem num ponto que não oferece dificuldades aos vulgares espíritos? E por que estarão reservadas sempre aos mais sábios as mais terríveis e cruéis dificuldades? Ora, que haverá mais terrível do que não saber se se está morto ou vivo? A 'Justiça' exigiria que tal conhecimento-ou tal ignorância-fosse apanágio de todos os homens. Que digo: a justiça! É a própria lógica que o exige, por ser absurdo que a uns seja dado distinguir a vida e a morte, enquanto outros de tal conhecimento são privados; com efeito, aqueles que o possuem diferem completamente dos que não o possuem, e não temos o direito de, indistintamente, a todos considerarmos da espécie humana. Só é homem quem sabe o que sejam a vida e a morte. Quem não sabe, aquele que mesmo de quando em quando, mesmo por um instante, deixa de apreender o limite que separa a vida e a morte, deixa de ser um homem e torna-se - Torna-se o quê? Que Édipo é capaz de resolver este enigma e penetrar neste mistério supremo?

                                            
                                             ÍNDICE

PREFÁCIO

PRIMEIRA PARTE: -

       - A luta contra as evidências

              (Dostoievsky)

SEGUNDA PARTE: -

        - O Juízo Final

                (As últimas obras de Tolstoi)

                




terça-feira, 17 de março de 2009

CONSTRUIREMOS A DEMOCRACIA EM PORTUGAL?




O nó da questão: 
Construiremos a Democracia em Portugal? 
in «Díálogos de Doutrna Anti-Democrática»
António José de Brito.

cf. páginas 69,70 e 71


«...que se sequestrem pessoas e sejam submetidas a interrogatórios hediondos(o sequestro significa acção por grupo privado);que em assembleias se passem sob rajadas de acusações certas pessoas,a quem muitas vezes nem o direito se dá de se defenderem(e como defender-se em tal ambiente sozinho?);...que se gere o medo e já não se ouse pensar mas apenas papaguear a cartilha de um grupo onde se será protegido;que se procure instalar nos postos não os competentes mas os que são «da cor»; ...e tanta coisa mais: tudo isto é extremamente inquietante...»

Prof. Vitorino Magalhães Godinho
«O nó da questão: Construiremos a Democracia em Portugal??»,in
«Vida mundial» nº 1846, de 30 de Janeiro de 1975,pág. 34.


https://www.jstor.org/stable/40241761


E a concluir o Prof. Magalhães Godinho alude à «crise funda que nos aflige», asseverando que «a anomia em que caímos não nos deixa construir; a nossa acção é agitação porque não a insufla um sentido» (idem,idem, pág. 38).

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