terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

«Versos Dourados dos Pitagóricos» - Versão Félix Bermudes





Félix Bermudes deu a conhecer esta sua versão no livro «O Homem Condenado a Ser Deus»!
A obra foi de seguida traduzida en francês, com o título «L'Homme a la Conquéte de l'Eternel», com apresentação de Pierre Mariel! 
No Brasil foi publicado sob os auspícios de Murillo Nunes de Azevedo, com o título «A Conquista do Eterno»! 


VERSOS DOURADOS DOS PITAGÓRICOS

PREPARAÇÃO

Presta a Deus imortal o culto consagrado;
Conserva a tua fé; dos vultos do passado,
Ou santos ou heróis, louva a divina ação.


PURIFICAÇÃO


Sê bom filho e bom pai; sê justo como irmão;
Amável como esposo; escolhe como amigo
Aquele que tiver luz para repartir contigo
E dê conselhos bons que o porte não desminta.
Se o fogo das paixões for cinza nele extinta,
Imita o seu exemplo, escuta o seu conselho,
Sê tu, para o refetir, um voluntário espelho;
Jamais te afastes dele por fútil discrepância;
Enjaula dentro em ti a fera da arrogância.
Sê sóbrio, ativo e casto: evita a irritação;
À raiva fecha a alma, ao ódio o coração.
Em público ou privado o mal jamais pratiques;
A quem te der lições escuta e não critiques;
Respeita-te a ti próprio, o sábio verdadeiro
Nada diz, nada faz sem refletir primeiro.
Sê justo. As más ações são catacumbas frias
Para sepultar, na morte, os bens e as honrarias;
Toda a riqueza é vã se foi contra um dever,
O fácil de ganhar, é fácil de perder.
O cálix da amargura imposto pela sorte
Aceita- o resignado, ele te fará mais forte.
Em mil fiéis ao erro, um só busca a verdade,
Mas Deus protege o sábio e livra-o da maldade.
O filósofo aprova ou condena sem tédio
E onde encontrar o erro incapaz de remédio,
Afasta-te e espera. "Afasta-te e espera!"
Grava bem esta lei, medita-a, considera
Quanta inútil pendência ela pode evitar-te.
Com todos sê cortês, sê nobre em toda a parte,
Não dês exemplos maus nem os sigas tão-pouco;
Agir sem fim nem causa é proceder de louco.
Olhos e ouvidos cerra a todo o preconceito.
A todo o fanatismo ou julgamento feito
Preconcebidamente e só por teimosia;
Seja tua e só tua a razão que te guia.
Não pretendas fazer o que a tua ignorância
Não permitir; o tempo, a atenção e a constância
Hão de trazer-te um dia o poder que te falta.
Aprender a Servir, eis a ambição mais alta
Que deve nortear a tua vida inteira.
Cuida bem do teu corpo; o trabalho aligeira
Quando ele se queixar, mas não lhe satisfaças
Apetites boçais; as dores e as desgraças
Começam quando o corpo ordena mais que a alma;
Se o serves uma vez, já nunca mais se acalma.
Do luxo ou da avareza os males são iguais,
Diferentes na aparência, irmãos em tudo o mais.
Procura encontrar sempre o justo médio termo,
Pois nenhum corpo é são estando o mental enfermo
Formula, ao despertar, o teu programa honesto
E nunca para amanhã deixes ficar um resto.


PERFEIÇÃO


Antes de adormecer repassa no mental
As acções que fizeste ou para bem ou para mal.
Não repitas as más, insiste só nas boas,
Estende a compaixão aos brutos e às pessoas;
A cada novo esforço, a cada prova rude,
Acenderás em ti a luz duma virtude.
Assim sublimarás a Tétrada Sagrada,
A tua quaternária e cósmica morada,
Alma, espírito e corpo – um embrião de Deus.
Procura com fervor abrir os olhos teus
À luz que vem do Olimpo; o teu esforço é vão,
Se o céu te não cobrir da sua proteção;
Só ele pode acabar as obras que começas
E dar-te, para o bem, o auxílio que lhe peças.
Estuda a natureza, aprende a lei sublime
Que rege a imensidade e que à matéria imprime
A vida universal. Perante estudos sérios,
Abrem-se pouco a pouco as portas dos Mistérios.
Então descobrirás a luz do teu destino
Que, por divino amor do nosso Pai Divino,
É vir colaborar no plano do Universo,
Com Deuses de que tu és "Uno", mas diverso.
Então desprezarás todo o desejo fútil;
Verás que o sofrimento é criação inútil
Dos erros e do vício e da maldade crua
Da tôrva insensatez dos outros e da tua,
O homem vive e morre a procurar um bem,
Sem nunca reparar nos bens que em si contém.
Quem não souber ser bom não sabe ser feliz,

É náufrago num mar de praias sempre hostis;
E entre o fraguedo atroz que a riba lhe apresenta,
Não pode resistir nem ceder à tormenta.
Porque não descobriu que transporta consigo
Um farol para o guiar a salvamento e abrigo.
Por entre os vendavais dessa jornada ignota,
Tem cada qual de abrir a sua própria rota.
Uma estirpe divina impõe à humanidade
Buscar no mar do erro o porto da Verdade;
A natureza ajuda o homem no caminho,
Nunca o desamparou, nunca o deixou sozinho.
Homem sábio, homem bom, tu que já penetraste
Os mistérios da vida e mediste o contraste
Entre o Bem e o mal, concentra-te um momento
E medita que deus, ao dar-te o Pensamento
E muitos outros dons que refletem os Seus,
Fez-te um Ser Imortal, porque és tu próprio um deus.


Nota: 
Félix Bermudes, que conheci em Moçambique, onde vivia o único filho, pai do poeta e escritor Nunio Bermudes!
Quando vim estudar para a então Metrópole, ainda privei com ele, já com leucemia grave! É de notar que Félix Bermudes procurou não usar o termo grego Zeus, pois respeitava a maioria católica vivendo em Portugal!
 

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