quarta-feira, 12 de novembro de 2008

«O caminho italiano para o Socialismo» - «Memorial de Yalta» - Palmiro Togliatti






 «O Caminho italiano 
       para o Socialismo»
             'O Memorial de Yalta'
 Palmiro Togliatti

Introdução de Jean-Paul Sartre
Depoimento de Franco Pratico

Tradução: Dalton Boechat
Temas, Problemas e Debates
Volume 6
Editora Civilização Brasileira S. A.
Rio de Janeiro - 1966
197 págs.

Titulo original:
«Il Partito Comunista Italiano»


ÍNDICE

Palmiro Togliatti - Jean-Paul Sartre IX
Um Grande Italiano - Franco Prattico 5
O Caminho Italiano par o Socialismo 
Palmiro Togliatti 41
O Memorial de Ialta - Apêndice 179






O CAMINHO ITALIANO PARA O SOCIALISMO
-Precursor do que virá a chamar-se 'Eurocomunismo'


Decidi ser importante falar sobre o escrito em que estava a trabalhar Palmiro Togliatti, quando a morte o surpreendeu em Yalta, na Crimeia. Local em que passava férias (Agosto de 1964).

Togliatti face à rutura Sino-Soviética e ás consequências nefastas, que eram 'já' previsíveis, para o Movimento Comunista Mundial, em vez de 'tomar partido', atitude 'fácil mas inútil', ele que não era decerto discípulo de Husserl, fez 'de facto' o que na Fenomenologia se chama «Epochê», pôr entre parêntesis! Aproveitou as férias e fez uma reflexão sobre a necessidade de em cada país, aqueles que têm a responsabilidade de construir o socialismo escolherem a 'via' adequada à história e às especificidades desse país! Aqui seguiu o conselho de Engels que diz: «Não devemos erigir a impaciência em princípio teórico».

É que já em Fevereiro desse ano de 1964, M. Suslov apresentara um relatório que era como uma 'Summa' de todas as críticas ao Partido Comunista da China. É uma ironia da História o laudatório elogio feito, no fim do Relatório, a Nikita Kruchev, estávamos em 24 de Fevereiro de 1964. Pois foi o mesmo Suslov que acusava brutalmente o mesmo Kruchev, alguns meses mais tarde, a 15 de Outubro de 1964, que foi deposto no dia seguinte em consequência desse requisitório.

Ora os soviéticos apoiados por outros partidos mostraram desejo de convocar uma conferência internacional, tendo o partido chinês, em 28 de Julho de 1964, respondido recusar participar numa «conferência cismática».

Dois acontecimentos imprevistos iriam trazer perturbação a esta áspera querela: Maurice Thorez, principal dirigente do partido francês faleceu a 11 de Julho a bordo do navio que o conduzia à URSS, perdendo assim Kruchev um precioso apoio. Em 21 de Agosto morria Togliatti na URSS.

É neste contexto que TogliattiI, nascido em 26 de Março de 1893, em Génova, Itália, país onde António Labriola travara uma luta para a restituição do 'verdadeiro' Karl Marx, adulterado pelos positivistas, onde com Gramsci, na Universidade de Turim, e nos círculos socialistas, Togliatti começava a brilhar. É chamado a cumprir o serviço militar em plena Grande Guerra. Sabe-se que leva consigo três textos que serão seus fiéis companheiros: «O Capital», terceiro livro; a «Ética » de Espinosa; e os «Diálogos» de Giordano Bruno

Em 1921, e face à Revolução Soviética de 1917, a fração de Turim de «Ordine Nuovo», que representava a ala esquerda dos maximalistas socialistas e a fração dos chamados «abstencionistas», dirigida por Amadeo Bordiga, abandonaram o Partido Socialista Italiano e formaram em Livoeno, o Partido Comunista da Italia. No ano seguinte, 1922, no Congresso de ROMA do PCI , Togliatti passa a fazer parte do Comité Central. Nesse mesmo ano dá-se a marcha sobre Roma e começa a violência fascista, tendo Togliatti escapado pela primeira vez à morte. Segue-se a longa resistência ao fascismo na clandestinidade.

Em 1926, a 21 de Janeiro, já no exílio toma parte no Congresso de Lião. Inicia-se assim o período do exílio: 18 anos! Em 1927 vai a Moscovo, e passa a integrar postos de responsabilidade no seu partido e na Internacional Comunista, até à sua dissolução em 1943.

Dado a tomada do poder pelo nazismo na Alemanha, a situação na Europa complica-se: em 1936 começa a Guerra Civil de Espanha. Toglatti ajudou a organizar a «Brigada Garibaldi», que integrava as famosas «Brigadas Internacionais».
Inicida a 2ª Guerra Mundial, Togliatti, por decisão da Internacional, foi para Moscovo.

Em 1943 dá-se o desembarque aliado na Sicília. Regressado a Itália, em 1944, faz o famoso discurso de unidade no «Modernissimo» de Nápoles, declarando que o PCI tudo fará para organizar uma frente patriótica para a reorganização da Itália. Aceita participar do governo de Badoglio, e vota com o PCI a Concordata com o Vaticano.

A 14 de Julho de 1948, foi vítima de atentado à saída do Parlamento, sendo atingido por 4 tiros de revólver. A Itália ficou à beira da guerra civil! Aqueles que vão estar por trás da morte de Aldo Moro  começavam a mostrar quem eram!...
Os seguintes 16 anos da sua vida vão ser ricos em acontecimentos.

Chegamos assim a 1964 e ao momento em que Togliatti, homem muito experiente, percebe o risco em que se encontra o movimento comunista. É preciso realçar isto, porque outros não tiveram a mesma coragem, embarcando num seguidismo, cheio de funestas consequências, em relação à URSS.

Togliatti escrevia:
«Temos ainda dúvidas e reservas quanto à oportunidade da Conferência internacional, principalmente porque é evidente que um grupo importante de partidos, além do Partido chinês, não participará dessa conferência» Adiante, depois de declarar que seria um erro apresentar sob luz muito otimista o movimento operário e comunista dos países ocidentais», acrescentava:

«É também por isso que, conquanto sempre tenhamos julgado erronias as posições chinesas, nós sempre tivemos, e mantemos até agora, sérias reservas sobre a utilidade de uma conferência internacional dedicada somente ou de maneira essencial à denúncia e à luta contra essas posições, justamente porque tememos no passado, e continuamos a temer, que dessa maneira os partidos comunistas dos países capitalistas sejam orientados num sentido contrário ao devido, isto é, a envolver-se em debates internos, puramente ideológicos, distantes da realidade. O perigo tornar-se-ia particularmente grave se se chegasse a uma rutura aberta no movimento comunista com a formação de um centro internacional chinês que construiria as suas «secções» em todos os países!

«A unidade de todas as forças socialistas numa ação comum, distante das divergências ideológicas, contra os mais reacionários grupos do imperialismo é uma necessidade absoluta. Não se pode pensar que a China e os comunistas chineses possam ser excluídos dessa unidade.

«Não é justo falar dos países socialistas e, mesmo da URSS, como se tudo corresse bem nesses países. Dificuldades, contradições, novos problemas surgem continuamente e devem ser apresentados em toda a sua realidade. Pior é dar a impressão de que tudo vai bem e, depois, de uma hora para a outra, vermo-nos obrigados a falar de situações difíceis e ter de explicá-las».

Em conclusão, acreditamos que mesmo no que respeita aos países socialistas, é necessário ter coragem de encarar com espírito crítico muitas situações e muitos problemas, se quisermos criar a base de uma melhor compreensão recíproca e de uma unidade mais estreita em todo o nosso movimento»





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