quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Do Complexo Militar-Industrial ao ´Pentagonismo' - Juan Bosch

                                    Esta obra muito interessante, bem como surpreendente, 
                                  encontrou má vontade e como consequência, deliberada
                                oposição, não de capitalistas, ou capitalismo. Antes dos que
                                 defendem a 'teoria' 'Marxista-Leninista' de «Imperialismo».
                               A péssima distribuição da obra, quase desconhecida, impõem
                                   a devida reflexão! Sim, Democracia, mas à 'maneira':
                                      'Democracia avançada', 'Democracia Popular'
                                    Para esses, 'Complexo Militar-Industrial' nunca 
                                        terá existido na URSS, ou seus sucedâneos!





A expressão «Complexo Militar- Industrial» foi proferida por um Presidente dos E.U.A. em 1961, no seu discurso de despedida após 8 anos na Presidência. As palavras do General Eisenhower são seguramente fruto da sua experiência direta nas mais altas esferas do poder militar e político dos EUA. Após relatar a crescente e enorme influência da estrutura militar e de grandes grupos económicos nas esferas do poder, afirmava Eisenhower: «Nas esferas da governação, devemos proteger-nos contra a aquisição de uma influência indesejada, procurada ou não, por parte do complexo militar-industrial. Existe, e permanecerá, o potencial para um surto desastroso de poder mal concentrado. Não devemos nunca permitir que o peso desta conjugação ameace as nossas liberdades ou o processo democrático. Não devemos partir do pressuposto de que tudo esteja garantido.» As palavras de Eisenhower são da maior atualidade nos dias de hoje. O «Military Industrial Complex», tão dissecado por Fred J. Cook no seu livro “0 Estado Militarista”, compreende o Pentágono e toda a sua vasta rede de fornecedores industriais e laboratórios de pesquisa. Para o ex-presidente Dwight Eisenhower, que inventou a expressão no discurso de despedida, “o desenvolvimento desse amplo conjunto de forças representa um grande perigo para os próprios americanos”. De qualquer maneira, o velho General 'Ike', sempre defendeu o complexo como vital na defesa do país - e isso é perfeitamente lógico. Completava Eisenhower: “Mas devemos nos prevenir contra a posse de um poderio demasiado grande”. De fato, enquanto alguns programas domésticos de extrema importância não têm dinheiro para sua completa execução (as necessidades chegam ao trilião de dólares), o Complexo Militar Industrial é acusado de ter crescido demais - e de ter-se tornado influente demais. Para o Senador democrata William Proxmire (Wisconsin), presidente do comitê que investiga a compra de aviões militares, “nesse tipo de transações quase sempre acontecem violações da lei criminal”. Para o Senador Edward Kennedy, a maioria das operações militares americanas, como as recentes batalhas na Colina “Hamburguer”, no Vietnam, são “inúteis, sem o menor sentido estratégico”. Para o General David Shoup, herói da guerra da Coreia, “os Estados Unidos se transformaram num país militarista e agressivo”. E para o Senador democrata Gaylord Nelson, também do Wisconsin, “os americanos estão vivendo uma verdadeira situação de guerra”. 
 
«O Pentagonismo Substituto do Imperialismo», Juan Bosch, Moraes. 1970 
 Esta obra premonitória, foi a tese que o Professor Juan Boschapresentou à Terceira Conferência Latino-Americana de Ciências Políticas e sociais, iniciada a 24 de Novembro e encerrada a 2 de Dezembro de 1967, na Universidade Aut´noma de São Domingos. . Depois do assassinato de Trujillo em 1961, Bosch regressou à República Dominicana e ganhou as eleições de 1962, como candidato do Partido Revolucionário Dominicano que ele tinha fundado em 1939. Seu encontro com o pensamento de Hostos, levará J. Bosch a adotar um idealismo moral que se traduzirá na luta por liberar a seu país da ditadura que o oprimia. Segundo Bosch, a ascensão de Franco em Espanha e o início da Segunda Guerra Mundial foram acontecimentos decisivos para que ele decidisse unir-se à oposição anti trujillista no exílio. Bosch, notável contista, político e ex-Presidente da República Dominicana, dirigiu a Revolução Constitucionalista de 24 de Abril de 1965, uma tentativa civil e militar para reassumir o seu Governo Constitucional derrubado em Setembro de 1963. Para 
Juan Bosch, a chegada à presidência de seu país significou a possibilidade real de iniciar o projeto liberal que se remontava ao ideal dos trinitários de 1844, os restauradores de 1865, os nacionalistas de princípio de século e dos anti-trujillistas do exílio. A partir do poder, acreditou que por fim seu país poderia encarrilar-se pelo caminho da democracia representativa e liberal. Pensou que era possível a revolução pacífica por meio da educação que Hostos tinha pregado. 
Seu esquema mental se desaprumou quando o 25 de setembro de 1963 foi derrubado por um setor das forças armadas dominicanas, a oligarquia e a colaboração do Pentágono norte-americano. 

Aquela que ficou conhecida como a terceira etapa da trajetória de Bosch é uma de época de desilusão e de busca. Esta etapa começa em 1963 e finaliza em 1966. A crise em que tinha entrado o pensamento de Bosch depois do golpe de 1963 agudizar-se-ia em 1965 com a segunda intervenção militar norte-americana em solo dominicano no século XX. O modelo político da democracia representativa e liberal, que tinha dado sentido às suas ações desde 1939 até 1963 , não tinha funcionado em seu país. A invasão militar norte americana de abril de 1965 faria com que Bosch desse um salto radical para o marxismo. O caminho percorrido por Bosch para chegar ao marxismo seguiu três etapas. 

Primeiro, questionou o sistema democrático representativo. Segundo, estudou a fundo a política internacional norte -americana na América Latina. Terceiro, iniciou o estudo dos clássicos do marxismo e, simultaneamente, viajou por vários países socialistas de Europa e do continente asiático. A partir de 1967, inicia-se a quarta etapa no pensamento de Bosch. Esta etapa se estende até o presente. 

Bosch abandona a defesa da democracia representativa e se converte num crítico deste sistema político e num proponente de mudanças revolucionárias. Como parte de seu novo projeto, propôs-se entender para si e explicar à militância de seu partido, desde a perspetiva do materialismo histórico, como funcionava o capitalismo. Ao mesmo tempo, estudou o desenvolvimento histórico da sociedade dominicana, empregando o instrumento conceptual da luta de classes. Seus primeiros livros nesta linha ideológica foram: O 'Pentagonismo, substituto do imperialismo (1967), Tese da ditadura com respaldo popular (1969), 'De Cristóvão Colombo a Fidel Castro' (1969), 'Breve história da oligarquia' (1970), e 'Composição social dominicana' (1970). 

 «O PENTAGONISMO» 
O capitalismo de hoje é capitalismo super desenvolvido. Este novo tipo de capitalismo já não necessita de recorrer a territórios dependentes que produzam matéria-prima barata e consumam caros artigos manufaturados. O capitalismo super desenvolvido achou em si mesmo a capacidade necessária para elevar ao cubo os dois termos do capitalismo que se punham em jogo na etapa imperialista. As suas formidáveis instalações industriais, operando sob condições criadas pela acumulação científica, podem produzir matérias-primas antes inimagináveis, a partir de matérias-primas básicas e a custos baixíssimos; essas novas matérias-primas, de qualidade, volume, consistência e calibre cientificamente garantidos, permitem ampliar para cifras fabulosas as linhas de produção, e assim o subproduto se tornou a chave do lucro mínimo indispensável, de maneira que os lucros obtidos com os produtos principais se acumulam para ampliar as instalações ou estabelecer outras novas, e o resultado final desse processo interminável é uma produtividade altíssima, jamais prevista na história do capitalismo. Graças a essa alta produtividade, o capitalismo superdesenvolvido pode pagar aos seus povos salários muito elevados, os quais proporcionaram, internamente, um poder de compra que cresce em ritmo galopante e que permite, por sua vez, capitalizar a um grau que não houvera sido capaz de supor o mais apaixonado promotor de expedições militares para conquistar colónias nos melhores dias de Vitória, rainha e imperatriz.» «Sem dúvida, o pentagonismo é uma ameaça para todos os povos do mundo: trata-se de uma máquina de guerra que necessita da guerra como os seres vivos necessitam de ar e alimento. Porém, representa uma ameaça igualmente grande para os norte-americanos. Se o poder do pentagonismo continuar a expandir-se e passar a dominar a esfera do poder civil dos Estados Unidos, este país, no seu todo - e não apenas os políticos e os militares -, acabará por provocar a ira do mundo inteiro contra ele. E não nos enganemos: a arma mais poderosa que existe, contra ou a favor de uma nação, não é a bomba «H» nem o antimíssil orbital; é a opinião pública mundial. 

O pentagonismo poderá ter consigo o interesse dos que acumulam poder e dinheiro, mas não terá a seu lado aqueles que aspiram a um reino de justiça sobre a terra. A simples palavra de Jesus foi, no fim de contas, mais poderosa do que as arrogantes legiões de Roma.» 

 Juan Bosch

Nota: João Bernardo, nosso compatriota, explicita de modo brilhante esta posição, ao distinguir mais-valia absoluta de mais-valia relativa. Os países de capitalismo avançado ao atingir essa mais-valia relativa, que possibilita um padrão de vida de qualidade, derrotaram desse modo a
URSS!

cf. «Crise da Economia Soviética». João Bernardo - Fora de Texto



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