quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Da metamorfose do conceito, estoico e humanista, de Cosmopolitismo na U.R.S.S.




«COSMOPOLITISMO» 

 Na edição de 1935 do seu 'Dicionário', D. N. Uchakov definiu cosmopolita como 'cidadão do mundo', mas, por ocasião do aparecimento da edição de 1949 do dicionário de Ojegov, a significação do termo evoluíra para «traidor do seu país». 
A edição de 1952 do «Pequeno Dicionário Filosófico» dava, igualmente, cosmopolitismo como sendo 'teoria reacionária que prega indiferença para com a pátria, as tradições nacionais e a cultura nacional'. Opõe-se a nacionalismo e «exprime a ideologia e a política da burguesia».  
«É, atualmente, cultivada pelos imperialistas americanos que lutam pela hegemonia mundial. Tem por finalidade induzir os povos à renúncia de sua luta por independência nacional e soberania, e a estabelecer um «governo mundial» ao serviço do imperialismo. 
E vai por aí afora o verbete para denunciar que o cosmopolitismo é utilizado pelos «imperialistas anglo-americanos» como fachada acobertadora de espionagem; que é defendido pelos socialistas de direita - fâmulos fieis do imperialismo»; que encontra sua expressão justa no «plano de banditismo conhecido por «Plano Marshall»; e que, mais genericamente, «se manifesta na forma de servilismo diante da «cultura burguesa corrupta», depreciação das grandes conquistas da cultura socialista soviética e desprezo pelo papel pioneiro desempenhado pelo povo russo».
O vocábulo, não apareceu, entretanto, nos decretos jdanovistas de 1946/7 sobre literatura e artes, e quando neste último ano G. F. Aleksandrov sofreu ataques por causa da sua «História da Filosofia», acusaram-no de objetivismo. Mas na segunda metade de janeiro de 1949, o XII Plenário do «Presidium da União dos Escritores Soviéticos», decidiu desencadear uma campanha contra críticos dramáticos e literários acusados de menosprezar a cultura soviética e de acenos simpáticos ao Ocidente. 
 A medida iniciou-se com um artigo na «Pravda» de 28 de Janeiro, no qual o cosmopolitismo era associado ao judaísmo internacional, ao sionismo, ao pan-americanismo e ao catolicismo, e com outro artigo no «Cultura e Vida»  de 30 de Janeiro. Os judeus apontados como os principais infratores, haviam sido atacados no ano anterior como «desprovidos de raízes»  (bezrodnye, literalmente, «sem família»), palavra empregada no verbete supracitado do «Dicionário Filosófico», ainda que sem referência a eles expressa.
O encargo de desmascarar o cosmopolitismo foi confiado ao conhecido teórico soviético M. Mitin e, em dois artigos da «Gazeta Literária» de 9 e 12 de Março de 1949, foram acusados disso doze eminentes intelectuais, incluindo cinco judeus, entre os quais M. Rosenthal, organizador, com P. Yudin, do «Dicionário Filosófico»!

cf. «O jargão comunista» - R. N. Carew Hunt



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