quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

«O Crepúsculo do Dever» - ´A Ética Indolor dos novos tempos democráticos` - Gilles Lipovetsky







    «O Crepúsculo do Dever»
´A Ética Indolor dos Novos Tempos Democráticos`
     Gilles Lipovetsky

Tradução: Fátima Gaspar e Carlos Gaspar

Biblioteca Nacional - Catálogação na Publicação
(Biblioteca Dom Quixote; 10)
ISBN 972-20-1154-5
CDU 17 ´´ 1990/ ´´
316-37´´1990/´´
Publicações Dom Quixote
1ª EDIÇÃO: Abril de 1994 
Depósito Legal n.º 75324/94
ISBN: 972-20-1154-5

Título origonal: «Le Crépuscule du Dévoir»
Éditions Gallimard, 1992




Um nome, um ideal congrega os espíritos e anima os corações das democracias ocidentais neste fim de milénio: a ética.
De há uma dezena de anos a esta parte, a ética ganha cada vez maior poder, invadindo os 'media', alimentando a reflexão filosófica, jurídica e deontológica, dando origem a instituições, aspirações e prática coletivas inéditas.
Bioética, caridade mediática, ações humanitárias, salvaguarda do ambiente, moralização dos interesses, da política e dos ´media` , debates em torno do assédio sexual, mensagens otimistas e códigos de linguagem ´correta` , cruzadas contra a droga e luta antitabágica, por toda a parte a revitalização dos valores e o espírito de responsabilidade são brandidos como o imperativo número um da época: a esfera ética tornou-se o espelho privilegiado onde se reflete o novo espírito do tempo.

E há mais: o tema da reativação moral, ou seja, da ´ordem moral` , dá mostras da sua ostensividade, mas qual a natureza deste ressurgimento e de que moral se fala exatamente? Estas questões encontram-se no centro da presente obra.
Digamos desde já: negamos a ideia falsamente evidente de ´retorno`. A nossa época não restabelece o reino da ´boa velha moral`, abandona-o. 

Visto de perto, o efeito de reanimação domina; a uma maior distância, somos testemunhas de uma enorme oscilação cultural que, para conjugar todas as referências humanistas, acaba por instalar uma ética de ´terceiro tipo` , que já não encontra o seu modelo nem nas morais religiosas tradicionais nem nas modernas, do dever laico, rigorista e categórico.

Esta período chegou ao fim. Uma nova lógica do processo de secularização da moral entrou em funcionamento, a qual já não consiste apenas em afirmar a ética como esfera independente das religiões reveladas, mas em dissolver socialmente a sua forma religiosa: o próprio dever. 
Surge o ´segundo limiar` da secularização ética, ou seja a idade de ouro do ´pós-dever` Pela primeira vez, eis uma sociedade que longe de exaltar os mandamentos superiores, os eufemiza e os desacredita, desvaloriza o ideal de abnegação estimulando sistematicamente os desejos imediatos, a paixão de ego, a felicidade intimista e materialista.
As nossas sociedades liquidaram todos os valores sacrificiais. Sociedade pós-moralista: entenda-se, uma sociedade que repudia a retórica do dever austero, integral e que, paralelamente, exalta os direitos individuais à autonomia, ao desejo, à felicidade, dando crédito apenas às normas indolores da vida ética.


http://www.sociologiajuridica.net.br/lista-de-publicacoes-de-artigos-e-textos/82-resenhas/141-lipovetsky-gilles-a-sociedade-pos-moralista-o-crepusculo-do-dever-e-a-etica-indolor-dos-novos-tempos-democraticos-trad-armando-braio-ara-barueri-manole-2005-p-2581-



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