segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

«O tempo dos alibis» - Marc Oraison




«O TEMPO DOS ALIBIS»
  MARC ORAISON

TRADUÇÃO:
ANTÓNIO CARLOS MURTEIRA
ORIENTAÇÃO GRÁFICA:
JOÃO MACHADO

LIVRARIA TELOS
PORTO-1973
TÍTULO ORIGINAL:
´LE TEMPS DES ALIBIS`
SEUIL - PARIS - 1973
Composto e impresso na
Tipografia Nunes, Lda.
Porto, Novembro de 1973



Uma lenda - persistente como todas as lendas - diz que o avestruz esconde a cabeça na areia para não ver o perigo. É uma ilusão. Mas chama-se a isto a ´política de avestruz`...
O autor pergunta-se, neste ensaio sobre a sociedade moderna, se o homem de hoje não estará iludido na sua política de avestruz: iludido com as suas lendas, antigas ou modernas.
Chegou o momento em que os alibis se desfazem um  após outro. Já não se pode fugir à realidade. O homem vê-se confrontado com a sua nudez essencial. Tem de aceitar a sua condição de fragilidade. Os alibis, sejam eles os do progresso, da política ou outros, cada vez se mostram menos seguros como refúgio da ´boa consciência` .





                                                                  Capa da edição original



- Não, senhor Juiz, não fui eu que matei. O crime foi cometido na noite de 16 para 17; ora, nesse dia, eu estava em casa duns amigos dos quais vos participei o endereço. Não podeis acusar-me do assassínio: eu estava ´noutro lado`.
          
                     'Alibi'

Na realidade o alibi é isto: estar noutro lado. E está relacionado, duma maneira ou doutra com uma culpabilidade; é a fuga precipitada. O que se teme essencialmente é ser acusado de alguma coisa que se fez. Foge-se; procura-se uma justificação. Busca-se exorcizar a todo o custo essa angústia fundamental e sempre a despontar que caracteriza o mais profundo da interrogação humana: a culpabilidade. Há momentos em que se impõe a necessidade de de fazer acreditar, ou de se acreditar que se está noutro lado, e não ´aí onde a questão se põe.`

Mas é insuportável que não haja culpado quando se dá um drama! É a contradição mais insuportável!...

Mas chega o momento em que a segurança do alibi se quebra. Apertando o inquérito, o juiz de instrução demonstra ao réu que ele cometeu na realidade o crime de que se suspeita, conseguindo que a morte se desse no momento em que ele podia provar que estava noutro lado.
Se tentarmos tomar consciência de como vive a sociedade do nosso tempo, podemos perguntar se não se tratará do momento dramático em que o alibi de toda uma civilização está prestes a ruir, provocando a busca desesperada e incoerente de tudo que possa enganar, camuflar, ignorar esse abismo que se abre sob os seus passos.



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